segunda-feira, 31 de outubro de 2011

AS REFORMAS DO SÉCULO 16

Alderi Souza de Matos

Propósito. O objetivo deste texto é estudar os principais movimentos de reforma religiosa ocorridos na Europa durante o século 16. São eles os movimentos luterano, calvinista, anabatista, anglicano e católico (contra-reforma).

1. A Reforma Luterana

1.1 Martinho Lutero

1483 – Nasce em Eisleben, na Alemanha oriental.

1484 – Seus pais, Hans e Margaretha Luder, mudam-se para Mansfeld, onde Hans trabalha em minas de cobre.

1492 – Lutero estuda em Mansfeld.

1497 – Estuda em Magdeburgo e no ano seguinte em Eisenach.

1501 – Ingressa na Universidade de Erfurt e no ano seguinte recebe o grau de bacharel.

1505 – Conclui o mestrado em Erfurt e começa a estudar direito. Em 02-07, durante uma tempestade, jura tornar-se monge; ingressa na Ordem dos Eremitas Agostinianos, em Erfurt.

1507 – É ordenado e celebra a primeira missa. No ano seguinte, leciona filosofia moral em Wittenberg.

1510 – Visita Roma e no ano seguinte é transferido para a casa agostiniana de Wittenberg.

1512 – Torna-se doutor em teologia e no ano seguinte começa a lecionar sobre os Salmos na Universidade de Wittenberg.

1515 – Leciona sobre Romanos e é nomeado vigário distrital sobre dez mosteiros; no ano seguinte, começar a lecionar sobre Gálatas.

1517 – Começa a lecionar sobre Hebreus; em 31 de outubro, afixa as Noventa e Cinco Teses sobre as indulgências. Contexto: eleição do sacro imperador e venda de indulgências.

1518 – Defende a sua teologia em uma reunião dos agostinianos em Heidelberg. Em outubro, comparece diante do cardeal Cajetano em Augsburgo, mas recusa retratar-se; em dezembro, Frederico, o Sábio, impede que Lutero seja levado a Roma.

1519 – Entende a “justiça de Deus” como uma “justiça passiva com a qual Deus nos justifica pela fé”. Em julho, tem um debate com o professor dominicano João Eck em Leipzig; defende João Hus e nega a autoridade suprema de papas e concílios. Carlos V é eleito sacro imperador.

1520 – A bula papal Exsurge Domine dá-lhe 60 dias para retratar-se ou ser excomungado. Queima a bula papal e um exemplar da lei canônica. Escreve três documentos fundamentais: À Nobreza Cristã da Nação Alemã, O Cativeiro Babilônico da Igreja e A Liberdade do Cristão. Reforma alastra-se na Alemanha e na Europa.

1521 – É excomungado pela bula Decet Romanum Pontificem, de Leão X. Em abril, na Dieta de Worms, recusa renegar os seus escritos e no mês seguinte um edito o condena como herético e proscrito. É seqüestrado e ocultado no Castelo de Wartburg, onde começa a traduzir o Novo Testamento. Protegido pelo príncipe eleitor.

1522 – Em março, deixa o seu esconderijo e retorna a Wittemberg. No ano seguinte, escreve Sobre a Autoridade Temporal. É publicado o Novo Testamento em alemão.

1524 – Tem um debate com Andreas Bodenstein Karlstadt sobre a Ceia do Senhor. Explode a Revolta dos Camponeses.

1525 – Escreve Contra os Profetas Celestiais; escreve Contra as Hordas Roubadoras e Assassinas, criticando a Revolta dos Camponeses. Casa-se com Catarina von Bora. Escreve O Cativeiro da Vontade, contra Erasmo. Morte de Frederico, o Sábio.

1526 – Escreve a Missa Alemã; nasce o seu filho Hans. Na Dieta de Spira, os príncipes recusam-se a aplicar o Edito de Worms. No ano seguinte, luta contra enfermidades e intensa depressão; escreve “Castelo Forte”. Nasce a sua filha Elizabete. Escreve contra as idéias de Zuínglio acerca da Ceia do Senhor.

1528 – Escreve a Grande Confissão Acerca da Ceia de Cristo; chora a morte de Elizabete; visita igrejas.

1529 – Dieta de Spira: intolerância contra os luteranos. Surge o nome “protestantes”. Lutero comparece com Zuínglio ao Colóquio de Marburgo, mas não alcançam acordo sobre a Ceia do Senhor. Publica o Grande Catecismo e o Pequeno Catecismo. Nasce sua filha Madalena.

1530 – Morre seu pai. Lutero, sendo um proscrito, não pode comparecer à Dieta de Augsburgo, realizada na tentativa de pôr fim à divisão religiosa do império. Filipe Melanchton apresenta a Confissão de Augsburgo, uma declaração das convicções luteranas.

1531 – Começar a lecionar sobre Gálatas. Nasce o seu filho Martin e morre a sua mãe, Margaretha.

1532 – Escreve Sobre os Pregadores Infiltradores e Clandestinos. Recebe o mosteiro agostiniano de Wittemberg como sua residência.

1533 – Nasce o seu filho Paulo. No ano seguinte, publica a Bíblia Alemã  completa e nasce sua filha Margarete.

1536 – Aceita a Concórdia de Wittemberg sobre a Ceia do Senhor, na tentativa de sanar as diferenças com outros reformadores, mas os zuinglianos a rejeitam.

1537 – Redige os Artigos de Schmalkald como seu “testamento teológico”. No ano seguinte, escreve contra os judeus em Contra os Sabatarianos.

1539 – Escreve Sobre os Concílios e a Igreja. Em 1541, escreve Exortação à Oração contra os Turcos.

1542 – Redige o seu testamento; morre sua filha Madalena. No ano seguinte, escreve Sobre os Judeus e suas Mentiras.

1544 – Escreve contra a interpretação de Caspar Schwenckfeld sobre a Santa Ceia.

1545 – Escreve Contra o Papado de Roma, uma Instituição do Diabo. Morre o arcebispo Alberto de Mogúncia e tem início o Concílio de Trento.

1546 – Lutero morre no dia 18 de fevereiro em Eisleben. Sua esposa morre em 1552.

1.2 Outros eventos
1546 – Guerra entre os protestantes e o sacro império romano.

1555 – Paz de Augsburgo: legalidade do luteranismo assegurada pelo princípio “cuius regio, eius religio”.

1618 – Guerra dos Trinta Anos envolve o Sacro Império Romano, Dinamarca, Suécia, França e Espanha. Termina com a Paz de Westfália (1648), que fixa as fronteiras políticas e religiosas.

1.3 Documentos da Reforma Luterana
- Alberto de Mogúncia, instruções sobre as indulgências, Bettenson, Documentos, 278.

- As Noventa e Cinco Teses (31-10-1517), Bettenson, Documentos, 281.

- As Noventa e Cinco Teses, Barry, Readings, II:15.

- As Noventa e Cinco Teses, Spitz, Protestant Reformation, 42.

- Primeira carta ao papa Leão X (30-05-1518), Barry, Readings, II:20.

- João Eck, relatório sobre o debate de Leipzig (1519), Bettenson, Documentos, 290.

- Lutero, À Nobreza Cristã da Nação Alemã (junho 1520), Bettenson, Documentos, 291.

- Lutero, À Nobreza Cristã da Nação Alemã, Barry, Readings, II:22.

- Lutero, À Nobreza Cristã da Nação Alemã, Spitz, Protestant Reformation, 51.

- Lutero, O Cativeiro Babilônico da Igreja, Bettenson, Documentos, 298.

- Lutero, Da Liberdade do Cristão (1520) (São Paulo: Unesp, 1997).

- Lutero, Da Liberdade do Cristão, Spitz, Protestant Reformation, 59.

- Leão X, Bula “Exsurge Domine” condenando os erros de Lutero (15-06- 1520), Barry, Readings, II:28.

- Lutero, resposta final à Dieta de Worms (1521), Bettenson, Documentos, 301.

- Lutero, Prefácio a Romanos (lei e evangelho) (1522), Spitz, Protestant Reformation, 36-42.

- Lutero, Prefácio da tradução alemã do Novo Testamento (1522), Hillerbrand, Protestant Reformation, 37.

- Carta de Erasmo a Lutero (abril 1526), Barry, Readings, II:11.

- Lutero, O Breve Catecismo (1529), Bettenson, Documentos, 305.

- Melanchton, A Confissão de Augsburgo (1530), Bettenson, Documentos, 317.

- Lutero, Comentário de Gálatas (1535), Hillerbrand, 87.

- Melanchton, Discurso Fúnebre sobre Lutero (1546), Spitz, Protestant Reformation, 68.

- A Paz de Augsburgo (1555), Bettenson, Documentos, 323.

- A Paz de Westfália (1648), Bettenson, Documentos, 326.

2. A Reforma Calvinista

2.1 Ulrico Zuínglio

1484 – Zuínglio nasce em Wildhaus, no cantão suíço de St. Gall.

1506 – Conclui o mestrado na Universidade de Basiléia e torna-se pároco em Glarus.

1515 – Testemunha a derrota dos suíços na “Batalha dos Gigantes”, em Marignano. Escreve uma sátira da guerra de mercenários, O  Labirinto, conclamando ao amor e fraternidade cristãos e ao fim da violência. Conhece Erasmo, o humanista holandês.

1516 – Divergindo das inclinações francesas de Glarus, muda-se para Einsiedeln; tem um caso com a filha do barbeiro local. Nesse ano e no seguinte, lê a tradução do Novo Testamento feita por Erasmo (Novum Instrumentum), publicada em 1515.

1518 – É nomeado sacerdote da Catedral de Zurique.

1519 – Começa a pregar uma série de sermões sobre o Novo Testamento, assinalando uma nova era da pregação bíblica. Ministra às vítimas da peste em Zurique, ficando ele mesmo enfermo por três meses. Leva Zurique a retirar-se da aliança com a França católica. Os mercenários de Zurique são proibidos de se venderem à França.

1522 – Vai a uma festa do impressor Christopher Froschauer em que as normas da quaresma são violadas; escreve A Liberdade de Escolha dos Alimentos, opondo-se ao jejum. Casa-se secretamente com a viúva Ana Reinhart. Assina um memorial com dez outros sacerdotes, pedindo que o bispo de Constança sancione casamentos clericais. Princípio: tudo deve ser julgado pelas Escrituras. Forma um círculo de jovens religiosos e humanistas – Grebel, Mantz, Reublin, Brotli, Stumpf. Escreve Apologeticus Archeteles, seu testemunho de fé. Renuncia ao sacerdócio, sendo contratado pelo Conselho Municipal como pastor evangélico no mesmo posto.

1523 – Sob os auspícios do Conselho de Zurique, convida a Europa cristã para uma debate público de 67 teses (os Sessenta e Sete Artigos): salvação somente pela graça, autoridade das Escrituras, sacerdócio dos fiéis, ataque ao primado do papa e à missa. É autorizado pelo Conselho a continuar pregando o evangelho. Escreve Da Justiça Divina e Humana para defender a recusa do conselho em modificar a legislação sobre o dízimo. Realiza um segundo debate público sobre as imagens e a missa. Recomenda que o conselho autorize a remoção das imagens. Movimento difunde-se na suíça alemã e no   sul da Alemanha.

1524 – Casa-se publicamente com a sua esposa.

1525 – Disputa pública sobre o batismo infantil traça a linha de batalha para ex-seguidores como Grebel. Zuínglio escreve dois panfletos contra os anabatistas: Sobre o Batismo e Sobre o Ofício da Pregação. Institui a Ceia do Senhor na páscoa, depois que  o  conselho ordena a suspensão das missas.

1526 – Em março, convence o conselho a promulgar um edito autorizando a execução de anabatistas. Após a assembléia suíço-católica em Baden, decide que a unidade suíça deve ser mantida mesmo com o uso da força.

1528 – Aceita o convite de Berna para um debate público, que resulta na eliminação da missa, das imagens e dos altares naquela cidade.

1529 – Acompanha as tropas de Zurique na Primeira Guerra de Kappel. Em outrubro, encontra-se com Lutero em Marburg para quatro dias de discussões convocadas pelo landgrave Filipe de Hesse.

1531 – Buscando o apoio dos franceses para a Reforma, permite a contratação de mercenários suíços. Envergando sua armadura, une-se às tropas no dia 11 de outubro e é morto em combate. É sucedido por Henrique Bullinger (1504-1575).

2.2 João Calvino
1509 – Calvino nasce em Noyon, na Picardia.

1521 – Recebe um benefício eclesiástico que lhe serve como bolsa de estudos.

1523 – Vai para Paris, a fim de estudar humanidades e teologia.

1528 – Estuda direito em Orléans e Bourges.

1531 – Regressa a Paris e reinicia seus estudos humanísticos. Publica um comentário do tratado de Sêneca “De Clementia”.

1533 – Conversão repentina; fuga para Angouleme no final do ano. Começa a escrever as Institutas.

1536 – Primeira edição da Instituição da Religião Cristã publicada em Basiléia. Calvino pretende fixar-se em Estrasburgo; ao passar por Genebra, Guilherme Farel (1489-1565) o convence a ficar. A cidade havia abraçado o protestantismo reformado recentemente.

1538 – Tenta impor suas idéias e é expulso, indo para Estrasburgo, onde passa os melhores anos da sua vida. Casa-se com Idelette de Bure. Escreve o Comentário da Carta aos Romanos.

1541 – Retorna a Genebra e escreve as Ordenanças Eclesiásticas.

1553 – Miguel Serveto é queimado por heresia quanto à trindade.

1555 – Calvino finalmente passa a ter o apoio dos magistrados.

1559 – Torna-se cidadão de Genebra e inaugura a Academia. Publica a última edição das Institutas.

1564 – Morre no dia 27 de maio. É sucedido por Teodoro Beza (1519-1605).

2.3 A Reforma na França
1515 – Francisco I torna-se rei; inicialmente tolerante, depois hostil contra os reformados.

1536 – No prefácio das Institutas, Calvino dirige-lhe um apelo em favor da tolerância religiosa.

1547 – Henrique II sobe ao trono; é mais severo que o seu pai contra os huguenotes. É sucedido por Francisco II em 1559; o governo é controlado pela família católica Guise-Lorraine.

1559 – Sínodo nacional da Igreja Reformada da França aprova a Confissão Galicana.

1560 – Carlos IX torna-se rei, sendo regente sua mãe Catarina de Médici, inicialmente tolerante com os huguenotes.

1561 – Colóquio de Poissy entre católicos e protestantes. Segue-se um período de guerras religiosas (1562-1598).

1572 – Massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08); almirante Gaspar de Coligny e milhares de reformados são mortos à traição.

1598 – Henrique IV promulga o Edito de Nantes, que seria revogado em 1685 por Luís XIV.

2.4 A Reforma nos Países Baixos
1523 – Primeiros mártires protestantes.

1555 – Carlos V abdica em favor do seu filho Filipe II, que intensifica a repressão contra os reformados.

1567 – O Duque de Alba torna-se regente da Holanda e inaugura um reino de terror. A oposição contra os espanhóis passa a ser liderada pelo príncipe Guilherme de Orange, o Taciturno (assassinado em 1584).

1571 – Um sínodo nacional realizado em Emden adota a forma presbiteriana de governo eclesiástico. É adotada a Confissão Belga, escrita por Guido de Brès. Essa confissão e o Catecismo de Heidelberg (1563) tornam-se os padrões teológicos da igreja reformada holandesa.

1575 – Fundação da Universidade de Leyden, centro de estudo da teologia calvinista.

1610 – Os seguidores de Tiago Armínio reúnem suas idéias na Remonstrância.

1618 – Sínodo de Dort aprova cinco artigos calvinistas (os Cânones de Dort) condenando a Remonstrância.

2.5 João Knox
1514 – Provável ano do seu nascimento.

1536 – Forma-se na Universidade de St. Andrews e é ordenado sacerdote.

1543 – Converte-se ao protestantismo.

1545 – Torna-se companheiro e guarda-costas de George Wishart, o introdutor da fé reformada na Escócia. No ano seguinte, Wishart é martirizado e o cardeal Beaton é assassinado.

1547 – Knox foge para o Castelo de St. Andrews e prega seu primeiro sermão protestante. O castelo é tomado e Knox é aprisionado na França por 19 meses.

1549 – Começa a pastorear em Berwick, Inglaterra; torna-se afamado como pregador. No ano seguinte, conhece sua futura esposa, Marjory Bowes.

1552 – Muda-se para Londres; questiona a prática de ajoelhar-se na comunhão; recusa tornar-se bispo de Rochester. No ano seguinte, vai para a clandestinidade quando Maria torna-se rainha.

1554 – Foge para a França e depois para Zurique e Genebra; pastoreia uma congregação inglesa em Frankfurt.

1555 – Uma discussão sobre a liturgia força-o a ir para Genebra, onde pastoreia uma igreja inglesa. Volta para a Escócia, casa-se com Marjory e faz trabalho missionário. No ano seguinte, é condenado por heresia e volta para Genebra com a esposa e a sogra.

1558 – Escreve o Primeiro Toque da Trombeta Contra o Monstruoso Regimento de Mulheres, defendendo a rebelião contra governantes ímpios.

1559 – Volta para a Escócia; prega um sermão condenando a “idolatria” que provoca uma rebelião.

1560 – O Parlamento Reformador adota a Confissão Escocesa. Morre a esposa de Knox. Primeira assembléia geral da Igreja da Escócia.

1561 – Knox ajuda a escrever o Primeiro Livro de Disciplina. A rainha Maria Stuart retorna da França. Knox ministra na igreja de St. Giles, em Edimburgo e tem a sua primeira entrevista com Maria.

1564 – Knox casa-se com Margaret Stewart.

1566 – Escreve a maior parte da História da Reforma da Religião na Escócia. No ano seguinte, Maria Stuart abdica em favor do seu filho Tiago VI (1567-1625), que, com a morte de Elizabete, torna-se também Tiago I da Inglaterra.

1572 – Knox morre em Edimburgo e é sepultado na catedral de St. Giles. Andrew Melville (1545-1622), outro ex-exilado em Genebra, torna-se o principal defensor da fé reformada na Escócia.

2.6 Documentos da Reforma Calvinista
- Zuínglio, O Primeiro Debate de Zurique e os Sessenta e Sete Artigos (1523), Spitz, Protestant Reformation, 77.

- Zuínglio, Comentário sobre a Verdadeira e a Falsa Religião (1525), Hillerbrand, Protestant Reformation, 108.

- Farel e Calvino, A Confissão de Genebra (1536), Spitz, Protestant Reformation, 114.

- Calvino, Instrução na Fé (1537), Barry, Readings, II:34.

- Calvino, Resposta a Sadoleto (1540), Hillerbrand, Protestant Reformation, 153.

- Calvino, Ordenanças Eclesiásticas (1541), Spitz, Protestant Reformation, 122.

- Calvino, Ordenanças Eclesiásticas, Hillerbrand, Protestant Reformation, 172.

- Calvino, Carta aos cinco prisioneiros de Lião (1552), Spitz, Protestant Reformation, 145.

- Calvino, Conversão e chamado a Genebra (1557), Spitz, Protestant Reformation, 110.

- Calvino, Institutas (1559), Bettenson, Documentos, 320.

- Calvino, Institutas, Spitz, Protestant Reformation, 129.

- Calvino, Institutas, Hillerbrand, Protestant Reformation, 178.

- João Knox, Diálogo com Maria, Rainha dos Escoceses (1561), Barry, Readings, II:47.

- Henrique IV, Edito de Nantes (13-04-1598), Bettenson, Documentos, 324.

- Henrique IV, Edito de Nantes, Barry, Readings, II:44.

3. A Reforma Anabatista
1521 – Baltazar Hubmaier vai para Waldshut e torna-se amigo de Zuínglio.

1522 – Primeira geração de anabatistas começa a estudar a Bíblia. Os principais são: Conrado Grebel, Felix Mantz, Jorge Blaurock, Simão Stumpf, Guilherme Reublin e João Brotli. Stumpf e Reublin questionam o pagamento de dízimos.

1523 – Hubmaier introduz cultos em alemão em Waldshut e contrai matrimônio. Na Segunda Disputa de Zurique, os seguidores radicais rompem com Zuínglio.

1524 – Mantz leva para Zurique folhetos de Karlstadt sobre o batismo infantil e a Ceia do Senhor. Os Irmãos Suíços escrevem a Muntzer, Karlstadt e Lutero. Reublin e Brotli recusam-se a batizar crianças. Ocorrem choques com Zuínglio e as autoridades e as primeiras punições.

1525 – Em 17 de janeiro, realiza-se a primeira disputa em Zurique com os opositores do batismo infantil. Surgem os “Irmãos Suíços”. No dia 21, ocorre o primeiro batismo de adultos em Zurique. Nos dias seguintes, a primeira igreja anabatista, com 35 conversos, é fundada em Zollikon. Em fevereiro, ocorre a primeira prisão de anabatistas em Zurique, mas conseguem fugir. Na Páscoa, Hubmaier estabelece o anabatismo como a “fé estatal”. Em maio, Bolt Eberle é executado no cantão de Schwyz, tornando-se o primeiro mártir protestante e anabatista. Em novembro, a terceira disputa batismal de Zurique é realizada na catedral para comportar a multidão.

1526 – Grebel morre em uma epidemia.

1527 – União Fraternal de Schleitheim aprova Confissão de Fé redigida por Miguel Sattler. Sattler e sua esposa são mortos em Rotemburgo, ele na fogueira e ela por afogamento. Mantz é afogado em Zurique; Hans Denck morre vitimado pela peste em Basiléia; Hans Hut morre na prisão em Augsburgo.

1528 – Hubmaier é queimado em Viena.

1529 – Os anabatistas do Tirol fogem para a Morávia. Hoffman encontra anabatistas em Estrasburgo. Blaurock é queimado no Tirol.

1530 – Hoffman batiza 300 anabatistas em Emden e envia pregadores leigos para a Holanda.

1531 – Bullinger sucede Zuínglio e publica o primeiro livro contra os anabatistas.

1533 – Jacó Hutter une-se ao grupo de morávios que tornam-se conhecidos como huteritas. O padeiro Jan Matthijs reivindica a liderança anabatista em Amsterdã e envia 12 discípulos aos pares. Hoffman vai para a prisão em Estrasburgo, onde aguarda a segunda vinda.

1534 – Jan van Leiden é coroado rei em Münster. Matthijs muda-se para Münster; os anabatistas vencem uma eleição local e tentam implantar o reino de Deus à força.

1535 – Cerco e queda de Münster; início das perseguições. No ano seguinte, Jan van Leiden é executado; seus restos, colocados numa gaiola na torre da igreja, servem de advertência até o século XX.

1536 – Menno Simons rompe com Roma e torna-se o líder anabatista da Holanda. Em 1539-40, publica o Fundamento da Doutrina Cristã, obra básica da fé anabatista. Hutter é torturado e morto na fogueira.

1538 – Filipe de Hesse promove um debate entre anabatistas e Bucer; em conseqüência, os anabatistas de Hesse retornam à igreja estatal e esta decide excomungar os cristãos imorais.

1540 – Kaspar von Ossig Schwenkfeld (1489-1561) publica a sua Grande Confissão e é condenado pelos luteranos em uma convenção de teológos liderada por Melanchton. Perseguidos em várias partes da Europa, seus seguidores foram para a Pensilvânia no século XVIII.

1541 – Peter Riedemann escreve a Confissão de Fé Huterita.

3.1 Documentos da Reforma Anabatista
- Conrado Grebel, Carta a Tomás Müntzer (1524), Hillerbrand, Protestant Reformation, 122.

- Miguel Sattler, A Confissão de Fé de Schleitheim (1527), Spitz, Protestant Reformation, 89.

- Miguel Sattler, A Confissão de Fé de Schleitheim, Hillerbrand, Protestant Reformation, 129.

- Peter Riedemann, Relato de nossa Religião (1565), Hillerbrand, Protestant Reformation, 143.

- Carta de Elizabete, mártir anabatista holandesa (1573), Hillerbrand, Protestant Reformation, 146.

4. A Reforma Inglesa
1509 – Henrique VIII torna-se rei (nasceu em 1491).

1521 – Escreve um folheto contra Lutero e recebe do papa Leão X o título de “defensor da fé”.

1525 – Publicação do Novo Testamento de William Tyndale (executado em 1536).

1527 – Henrique procura anular o seu casamento com Catarina de Aragão, tia do imperador Carlos V.

1533 – Thomas Cranmer torna-se Arcebispo de Cantuária; tribunal eclesiástico declara nulo o casamento de Henrique com Catarina de Aragão e Henrique é excomungado pelo papa Clemente VII.

1534 – Ato de Supremacia reconhece Henrique VIII como “chefe supremo” da Igreja da Inglaterra.

1536 – Início da dissolução dos mosteiros, completada em 1539.

1539 – Os Seis Artigos; perseguição dos protestantes.

1547 – Henrique morre segurando a mão de Cranmer. Eduardo VI, filho de Jane Seymour, torna-se rei aos 9 anos. Seus tutores implantam a Reforma.

1549 – Ato do Parlamento ordena o uso do Livro de Oração Comum, de Cranmer.

1552 – Cranmer revisa o Livro de Oração Comum e escreve os Quarenta e Dois Artigos, que prescrevem uma doutrina calvinista para a Igreja da Inglaterra.

1553 – Eduardo morre e Maria, a filha de Catarina de Aragão, torna-se rainha. Perseguições levam muitos ao martírio ou ao exílio.

1555 – Morte na fogueira de Hugh Latimer e Thomas Ridley, os mais famosos dos mártires marianos. No ano seguinte, Cranmer também é queimado vivo.

1558 – Maria morre e é sucedida por sua meio-irmã Elizabete, filha de Ana Bolena.

1563 – Ato de Uniformidade aprova os Trinta e Nove Artigos. Publicação do Livro dos Mártires, de Fox. Surgimento dos puritanos (Thomas Cartwright, Henry Jacob, Thomas Goodwin, Richard Baxter, John Owen, John Bunyan e outros).

1570 – Excomunhão de Elizabete pelo papa Pio V.

1587 – Execução de Maria Stuart, rainha da Escócia.

1588 – Destruição da “Invencível Armada”.

1593 – Publicação de As Leis de Política Eclesiástica, de Richard Hooker.

1603 – Tiago I sobe ao trono da Inglaterra (Tiago VI da Escócia).

1620 – Chegada dos puritanos ingleses no Novo Mundo.

1625 – Carlos I torna-se rei e tenta impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses.

1643 – Parlamento puritano em guerra contra o rei convoca a Assembléia de Westminster.

1649 – Carlos I é executado. Oliver Cromwell assume o governo.

1660 – Carlos II sobe ao trono e restaura o episcopado na Igreja da Inglaterra.

4.1 Documentos da Reforma Inglesa
- William Tyndale, O Novo Testamento em Inglês (240), Hillerbrand, Protestant Reformation, 240.

- A submissão do clero (1532), Bettenson, Documentos, 328.

- Cranmer, Proibição dos apelos a Roma (1533), Bettenson, Documentos, 329.

- Cranmer, Proibição dos apelos a Roma, Spitz, Protestant Reformation, 151.

- Proibição de remessa de valores a Roma (1534), Bettenson, Documentos, 331.

- O Ato de Supremacia (1534), Bettenson, Documentos, 332.

- O Ato de Supremacia (1534), Barry, Readings, II:68.

- Abjuração da supremacia papal pelo clero (1534), Bettenson, Documentos, 333.

- Paulo III, Bula “Eius Qui Immobilis”, condenando Henrique VIII (1535), Bettenson, Documentos, 333.

- Os Seis Artigos (1539), Bettenson, Documentos, 334.

- Os Seis Artigos, Barry, Readings, II:69.

- Os Seis Artigos, Spitz, Protestant Reformation, 162.

- Cranmer, Prefácio à Bíblia (1540), Spitz, Protestant Reformation, 164.

- O Ato de Supremacia (1559), Bettenson, Documentos, 336.

- O Ato de Supremacia, Spitz, Protestant Reformation, 172.

- O Ato de Uniformidade, Spitz, Protestant Reformation, 174.

- John Jewel, Apologia da Igreja da Inglaterra (1562), Hillerbrand, Protestant Reformation, 247.

- Pio V, Bula “Regnans in Excelsis”, excomungando e depondo a rainha Elizebete I da Inglaterra (25-02-1570), Bettenson, Documentos, 337.

- Pio V, Bula “Regnans in Excelsis”, excomungando e depondo a rainha Elizebete I da Inglaterra, Barry, Readings, II:70.

- Richard Hooker, As Leis de Política Eclesiástica (1593), Barry, Readings, II:79.

- Richard Hooker, As Leis de Política Eclesiástica, Hillerbrand, Protestant Reformation, 267.

5. A Reforma Católica
1517 – Começo do movimento Oratório do Amor Divino: clérigos e leigos dedicados a uma vida espiritual profunda por meio de exercícios espirituais.

1528 – Clemente VII aprova os Capuchinhos (ramo dos franciscanos conhecido pelo espírito de serviço e pregação popular).

1534 – Inácio de Loiola funda a ordem jesuíta a fim de renovar a Igreja Católica.

1540 – A Sociedade de Jesus é formalmente reconhecida pelo papa Paulo III.

1542 – Estabelecida a Inquisição romana (abolida em 1854).

1545 – Paulo III apóia a guerra contra os protestantes alemães proposta pelo imperador Carlos V

1545 – Concílio de Trento inicia seus trabalhos. Três séries de sessões: 1545-49, 1551-52 e 1562-63. Aprova doutrinas contra os protestantes e reformas práticas.

1559 – Índice dos Livros Proibidos (Paulo IV). Sua revisão resultou no Índice Tridentino ou Índice do Papa Pio IV (1564).

1562 – Fundação dos Carmelitas Descalços por Teresa de Ávila (vida contemplativa e piedade mariana).

1564 – É publicada a Confissão de Fé Tridentina.

1568 – César Barônio, da Congregação do Oratório de Filipe Neri, começa os Anais Eclesiásticos (contra As Centúrias de Magdeburgo dos protestantes).

1569 – Pio V incita Catarina de Médicis ao extermínio completo dos hereges na França.

1576 – O jesuíta Roberto Belarmino ocupa a cátedra de Polêmica na nova Faculdade Romana.

1593 – Belarmino publica a obra antiprotestante As Controvérsias da Fé Cristã.

5.1 Documentos da Reforma Católica
- Paulo III, Edito geral para a reforma das pessoas e lugares eclesiásticos em Roma (11-02-1536), Barry, Readings, II:92.

- Recomendações de uma comissão seleta de nove cardeais e prelados ao papa Paulo III (1538), Barry, Readings, II:96.

- Decretos do Concílio de Trento (1545-1563), Bettenson, Documentos, 363-370.

- Bispo Jerônimo Ragozonus de Veneza, discurso proferido na nona e última sessão do Concílio de Trento (04-12-1563), Barry, Readings, II:103.

- Índice de Livros Proibidos (1564), Barry, Readings, 109.

- A Profissão de Fé Tridentina, da bula de Pio IV, “Injunctum Nobis” (novembro 1564), Betteson, Documentos, 370.

- Inácio de Loiola, Carta aos pais e irmãos de Coimbra (07-05-1547), Barry, Readings, II:112.

- Inocêncio X, Bula “Zelo Domus Dei”, condenando as cláusulas religiosas da Paz de Westfália (20-11-1648), Barry, Readings, 119.

6. Bibliografia

6.1 História

Owen Chadwick, The Reformation, vol. 3, The Pelican History of the Church (Londres: Penguin, 1972).

H. Daniel-Rops, The Protestant Reformation (Londres: J.M. Dent & Sons, 1961).

Harold J. Grimm, The Reformation Era: 1500-1650, 2a. ed. (Nova York: Macmillan, 1973).

Hans J. Hillerbrand, Christendom Divided: The Protestant Reformation (Nova York: Corpus, 1971).

Glenn T. Miller, The Modern Church: From the Dawn of the Reformation to the Eve of the Third Millennium (Nashville: Abingdon, 1997).

Oskar Thulin, ed., Illustrated History of the Reformation (Saint Louis: Concordia, 1967).

James Pounder Whitney, The History of the Reformation (Londres: SPCK, 1958).

6.2 Pensamento
Timothy George, A Teologia dos Reformadores (São Paulo: Vida Nova, 1994).

A.C. McGiffert, Protestant Thought Before Kant (Nova York: Harper & Brothers, 1961).

Alister McGrath, Reformation Thought: An Introduction, 2a. ed. (Grand Rapids: Baker, 1993).

Alister McGrath, The Intellectual Origins of the European Reformation (Oxford: Blackwell, 1987).

Heiko A. Oberman, The Dawn of the Reformation: Essays in Late Medieval and Early Reformation Thought (Grand Rapids: Eerdmans, 1986).

Steven Ozment, The Age of Reform: 1250-1550 - An Intellectual and Religious History of Late Medieval and Reformation Europe (New Haven: Yale University Press, 1980).

Bernard M.G. Reardon, Religious Thought in the Reformation, 2a. ed. (Londres: Longman, 1995).

6.3 Documentos
Hans Hillerbrand, ed., The Protestant Reformation (Nova York: Harper & Row, 1968).

Hans Hillerbrand, ed., The Reformation: A Narrative History Related by Contemporary Observers and Participants (Grand Rapids: Baker, 1977).

Mark A. Noll, ed., Confessions and Catechisms of the Reformation (Grand Rapids: Baker, 1991).

Matthew Spinka, ed., Advocates of Reform: From Wyclif to Erasmus, The Library of Christian Classics, Vol. XIV (Filadélfia: Westminster, 1953).

Lewis W. Spitz, ed., The Protestant Reformation: Major Documents (Saint Louis: Concordia, 1997).

Colman J. Barry, ed., Readings in Church History, 3 vols., Vol. II: The Reformation and the Absolute States: 1517-1789 (Westminster, MD: The Newman Press, 1967).

Henry Bettenson, ed., Documentos da Igreja Cristã, trad. Helmuth Alfred Simon, 3ª ed. (São Paulo: ASTE/Simpósio, 1998).

Fonte: www.mackenzie.br
Histórico da Igreja Presbiteriana do Brasil

Alderi Souza de Matos

Atualmente existem no Brasil várias denominações de origem reformada ou calvinista. Entre elas incluem-se a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, a Igreja Presbiteriana Conservadora, a Igreja Presbiteriana Unida do Brasil e algumas igrejas criadas por imigrantes vindos da Europa continental, tais como suíços, holandeses e húngaros. No entanto, a maior e mais antiga denominação reformada do país é a Igreja Presbiteriana do Brasil. Todavia, convém lembrar que já nos primeiros séculos da história do Brasil houve a presença de calvinistas no país.


1. Primórdios do movimento reformado no Brasil
 1.1 A França Antártica
Os primeiros calvinistas chegaram ao Brasil ainda no começo da sua história. No final de 1555, um grupo de franceses liderados por Nicolas Durand de Villegaignon instalou-se em uma das ilhas da baía de Guanabara. Um ano e meio mais tarde, chegou à “França Antártica” um grupo de colonos e pastores reformados enviados pelo próprio João Calvino, em resposta a um pedido de Villegaignon. No dia 10 de março de 1557 esses evangélicos realizaram o primeiro culto protestante do Brasil e possivelmente do Novo Mundo. Eventualmente, surgiram desavenças teológicas entre Villegaignon e os calvinistas. Cinco deles foram presos e forçados a escrever uma declaração de suas convicções. O resultado foi a bela “Confissão de Fé da Guanabara.” Com base nessa declaração, três dos calvinistas foram executados e outro foi poupado por ser o único alfaiate da colônia. O quinto autor da confissão de fé, Jacques le Baleur, conseguiu fugir, mas eventualmente foi preso e mais tarde enforcado. Dentre os que conseguiram retornar para a França estava o sapateiro Jean de Léry, que mais tarde tornou-se pastor e escreveu a célebre obra Viagem à Terra do Brasil (1578).


1.2 O Brasil holandês
A próxima tentativa de introdução do calvinismo no Brasil ocorreu em meados do século XVII através dos holandeses. No contexto da guerra contra a Espanha, a Companhia das Índias Ocidentais ocupou o nordeste brasileiro por vinte e quatro anos (1630-1654). O mais famoso governante do Brasil holandês foi o príncipe João Maurício de Nassau-Siegen, que aqui esteve apenas sete anos (1637-1644). Embora os residentes católicos e judeus tenham gozado de tolerância religiosa, a igreja oficial da colônia era a Igreja Reformada da Holanda, que realizou uma grande obra pastoral e missionária. Ao longo dos anos foram criadas 22 igrejas e congregações, dois presbitérios (Pernambuco e Paraíba) e até mesmo um sínodo, o Sínodo do Brasil (1642-1646). Além da assistência aos colonos europeus, a igreja reformada fez um notável trabalho missionário junto aos indígenas. Ao lado da pregação e ensino, houve a preparação de um catecismo na língua nativa. Outros projetos incluíam a tradução das Escrituras e a ordenação de pastores indígenas, o que não chegou a efetivar-se. Com a expulsão dos holandeses, as igrejas nativas vieram a extinguir-se e por um século e meio desapareceram os vestígios do calvinismo no Brasil.


1.3 O protestantismo de imigração
O protestantismo em geral e o presbiterianismo em particular só puderam estabelecer-se definitivamente no Brasil após a chegada da família real, em 1808. Em 1810, Portugal e a Inglaterra firmaram um Tratado de Comércio e Navegação cujo artigo XII pela primeira vez em nossa história concedeu liberdade religiosa aos imigrantes protestantes. Logo, muitos deles começaram a chegar de diversas regiões da Europa, inclusive reformados franceses, suíços e alemães. Em 1827, por iniciativa do cônsul da Prússia, foi fundada no Rio de Janeiro a Comunidade Protestante Alemã-Francesa, congregando luteranos e calvinistas.

Durante várias décadas, o calvinismo ficou restrito às comunidades imigrantes, sem atingir os brasileiros. Os poucos pastores reformados ou presbiterianos que por aqui passaram restringiram suas atividades religiosas aos estrangeiros. Tal foi o caso do Rev. James Cooley Fletcher, um pastor presbiteriano norte-americano que teve uma longa e frutífera ligação com o Brasil a partir de 1851. Ele deu assistência religiosa a marinheiros e imigrantes europeus, procurou aproximar o Brasil e os Estados Unidos nas áreas diplomática, comercial e cultural e escreveu o livro O Brasil e os Brasileiros, publicado em 1857. Através de seus contatos com políticos e intelectuais brasileiros, Fletcher contribuiu indiretamente para a introdução do protestantismo no Brasil. Foi por sua sugestão que o missionário congregacional inglês Robert Reid Kalley veio para o Brasil em 1855. Finalmente, o presbiterianismo foi implantado entre os brasileiros pelo Rev. Ashbel Green Simonton, que aqui chegou em 1859.


2. História da Igreja Presbiteriana do Brasil
A história da Igreja Presbiteriana do Brasil divide-se em alguns períodos bem definidos.


2.1 Implantação (1859-1869)
O surgimento do presbiterianismo no Brasil resultou do pioneirismo e desprendimento do Rev. Ashbel Green Simonton (1833-1867). Nascido em West Hanover, na Pensilvânia, Simonton estudou no Colégio de Nova Jersey e inicialmente pensou em ser professor ou advogado. Alcançado por um reavivamento em 1855, fez a sua profissão de fé e pouco depois ingressou no Seminário de Princeton. Um sermão pregado por seu professor, o famoso teólogo Charles Hodge, levou-o a considerar o trabalho missionário no estrangeiro. Três anos depois, candidatou-se perante a Junta de Missões da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos, citando o Brasil como campo de sua preferência. Dois meses após a sua ordenação, embarcou para o Brasil, chegando ao Rio de Janeiro em 12 de agosto de 1859, aos 26 anos de idade.

Em abril de 1860, Simonton dirigiu o seu primeiro culto em português. Em janeiro de 1862, recebeu os primeiros conversos, sendo fundada a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro. No breve período em que viveu no Brasil, Simonton, auxiliado por alguns colegas, fundou o primeiro periódico evangélico do país (Imprensa Evangélica, 1864), criou o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e organizou um seminário (1867). O Rev. Ashbel Simonton morreu vitimado pela febre amarela aos 34 anos, em 1867 (sua esposa, Helen Murdoch, havia falecido três anos antes).

Os principais colaboradores de Simonton nesse período foram seu cunhado Alexander L. Blackford, que em 1865 organizou as Igrejas de São Paulo e Brotas; Francis J. C. Schneider, que trabalhou entre os imigrantes alemães em Rio Claro, lecionou no seminário do Rio e foi missionário na Bahia; e George W. Chamberlain, grande evangelista e operoso pastor da Igreja de São Paulo. Os quatro únicos estudantes do “seminário primitivo” foram eficientes pastores: Antonio Bandeira Trajano, Miguel Gonçalves Torres, Modesto Perestrelo Barros de Carvalhosa e Antonio Pedro de Cerqueira Leite.

Outras poucas igrejas organizadas no primeiro decênio foram as de Lorena, Borda da Mata (Pouso Alegre) e Sorocaba. O homem que mais contribuiu para a criação dessas e outras igrejas foi o notável Rev. José Manoel da Conceição (1822-1873), um ex-sacerdote que se tornou o primeiro brasileiro a ser ordenado ministro do evangelho (1865). Conceição visitou incansavelmente dezenas de vilas e cidades no interior de São Paulo, Vale do Paraíba e sul de Minas, pregando o evangelho da graça.


2.2 Consolidação (1869-1888)
Simonton e seus companheiros eram todos da Igreja Presbiteriana do norte dos Estados Unidos (PCUSA). Em 1869 chegaram os primeiros missionários da igreja do sul (PCUS): George Nash Morton e Edward Lane. Eles fixaram-se em Campinas, região onde residiam muitas famílias norte-americanas que vieram para o Brasil após a Guerra Civil no seu país (1861-1865). Em 1870, Morton e Lane fundaram a igreja de Campinas e em 1873 o famoso, porém efêmero, Colégio Internacional. Os missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. O pioneiro em várias dessas regiões foi o incansável Rev. John Boyle, falecido em 1892.

Os obreiros da PCUS também foram os pioneiros presbiterianos no nordeste e norte do Brasil (de Alagoas até a Amazônia). Os principais foram John Rockwell Smith, fundador da igreja do Recife (1878); DeLacey Wardlaw, pioneiro em Fortaleza; e o Dr. George W. Butler, o “médico amado” de Pernambuco. O mais conhecido dentre os primeiros pastores brasileiros do nordeste foi o Rev. Belmiro de Araújo César, patriarca de uma grande família presbiteriana.

Enquanto isso, os missionários da Igreja do norte dos Estados Unidos, auxiliados por novos colegas, davam continuidade ao seu trabalho. Seus principais campos eram Bahia e Sergipe, onde atuou, além de Schneider e Blackford, o Rev. John Benjamin Kolb; Rio de Janeiro, que inaugurou seu templo em 1874, e Nova Friburgo, onde trabalhou o Rev. John M. Kyle; Paraná, cujos pioneiros foram Robert Lenington e George A. Landes; e especialmente São Paulo. Na capital paulista, o casal Chamberlain fundou em 1870 a Escola Americana, que mais tarde veio a ser o Mackenzie College, dirigido pelo educador Horace Manley Lane. No interior da província destacou-se o Rev. João Fernandes Dagama, português da Ilha da Madeira. No Rio Grande do Sul, trabalhou por algum tempo o Rev. Emanuel Vanorden, um judeu holandês.

Entre os novos pastores “nacionais” desse período estavam Eduardo Carlos Pereira, José Zacarias de Miranda, Manuel Antônio de Menezes, Delfino dos Anjos Teixeira, João Ribeiro de Carvalho Braga e Caetano Nogueira Júnior. As duas igrejas norte-americanas também enviaram ao Brasil algumas notáveis missionárias educadoras como Mary Parker Dascomb, Elmira Kuhl, Nannie Henderson e Charlotte Kemper.


2.3 Dissensão (1888-1903)
Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo da Igreja Presbiteriana do Brasil, que assim tornou-se autônoma, desligando-se das igrejas-mães norte-americanas. O Sínodo compunha-se de três presbitérios (Rio de Janeiro, Campinas-Oeste de Minas e Pernambuco) e tinha vinte missionários, doze pastores nacionais e cerca de 60 igrejas. O primeiro moderador foi o veterano Rev. Blackford. O Sínodo criou o Seminário Presbiteriano, elegeu seus dois primeiros professores e dividiu o Presbitério de Campinas e Oeste de Minas em dois: São Paulo e Minas.

Nesse período a denominação expandiu-se grandemente, com muitos novos missionários, pastores brasileiros e igrejas locais. O Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo no final de 1892 e no início de 1895 transferiu-se para São Paulo, tendo à frente o Rev. John Rockwell Smith. O Mackenzie College ou Colégio Protestante foi criado em 1891, sendo seu primeiro presidente o Dr. Horace Manley Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio Internacional foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-se Instituto Gammon, numa homenagem ao seu grande líder, o Rev. Samuel R. Gammon (1865-1928).

A primeira escola evangélica do nordeste foi o Colégio Americano de Natal (1895), fundado por Katherine H. Porter, esposa do Rev. William C. Porter. Na mesma época, a cidade de Garanhuns começou a tornar-se um grande centro da obra presbiteriana. Além do trabalho evangelístico, foram lançadas as bases de duas importantes instituições educacionais: o Colégio Quinze de Novembro e o Seminário do Norte, hoje sediado em Recife. No final desse período, além de estar presente em todos os estados do nordeste, a Igreja Presbiteriana chegou ao Pará e ao Amazonas.

No sul, foi iniciada a obra presbiteriana em Santa Catarina (São Francisco do Sul e Florianópolis). A igreja também iniciou a sua marcha vitoriosa no leste de Minas. O primeiro obreiro a residir em Alto Jequitibá foi o Rev. Matatias Gomes dos Santos (1901). As igrejas de São Paulo e do Rio de Janeiro passaram a ser pastoreadas por dois grandes líderes, respectivamente Eduardo Carlos Pereira (1888) e Álvaro Emídio G. dos Reis (1897).

Infelizmente, os progressos desse período foram em parte ofuscados por uma grave crise que se abateu sobre a vida da igreja. Inicialmente, surgiu uma diferença de prioridades entre o Sínodo e a Junta de Missões de Nova York. O Sínodo queria apoio para a obra evangelística e para instalar o Seminário, ao passo que a Junta preferiu dar ênfase à obra educacional, principalmente através do Mackenzie College. Paralelamente, surgiram desentendimentos entre o pastor da Igreja Presbiteriana de São Paulo, Rev. Eduardo Carlos Pereira, e os líderes do Mackenzie, Horace M. Lane e William A. Waddell.

Com o passar do tempo, o Rev. Eduardo C. Pereira passou a tornar-se mais radical em suas posições, perdendo o apoio até mesmo de muitos dos seus colegas brasileiros. Como uma alternativa ao jornal do Rev. Eduardo, O Estandarte, o Rev. Álvaro Reis criou O Puritano em 1899. Em 1900 foi organizada a Igreja Presbiteriana Unida de São Paulo, que resultou da fusão de duas igrejas formadas por pessoas que haviam saído da igreja do Rev. Eduardo. Na mesma época, um novo problema veio complicar ainda mais a situação: o debate acerca da maçonaria.

Em março de 1902, Eduardo C. Pereira e seus partidários começaram a divulgar a sua Plataforma, com cinco tópicos sobre as questões missionária, educativa e maçônica. Após pouco mais de um ano de debates acalorados, a crise chegou ao seu lamentável desfecho em 31 de julho de 1903, durante a reunião do Sínodo. Após serem derrotados em suas propostas, Eduardo Carlos Pereira e seus colegas desligaram-se do Sínodo e formaram a Igreja Presbiteriana Independente.


2.4 Reconstituição (1903-1917)
No início de agosto de 1903, os independentes organizaram o seu presbitério, com quinze presbíteros e sete pastores (Eduardo C. Pereira, Caetano Nogueira Jr., Bento Ferraz, Ernesto Luiz de Oliveira, Otoniel Mota, Alfredo Borges Teixeira e Vicente Temudo Lessa). Seguiu-se um triste período de divisões de comunidades, luta pela posse de propriedades, litígios judiciais. Uma pastoral do Presbitério Independente chegou a vedar aos sinodais a Ceia do Senhor. O período mais conflitivo estendeu-se até 1906. Nessa época, o Sínodo contava com 77 igrejas e cerca de 6500 membros; em 1907, os independentes tinham 56 igrejas e 4200 comungantes.

O prédio do seminário, no bairro Higienópolis, foi ocupado sem solenidade em setembro de 1899. Os principais professores eram os Revs. John R. Smith e Erasmo Braga (este a partir de 1901); o membro mais destacado da diretoria era o Rev. Álvaro Reis. Em fevereiro de 1907, o seminário foi transferido para Campinas, ocupando a antiga propriedade do Colégio Internacional. A primeira turma de Campinas só se formou em 1912. Entre os formandos estavam Tancredo Costa, Herculano de Gouvêa Jr., Miguel Rizzo Jr. e Paschoal Luiz Pitta. Mais tarde viriam Guilherme Kerr, Jorge T. Goulart, Galdino Moreira e José Carlos Nogueira.

A obra presbiteriana crescia em muitos lugares. A primeira cidade atingida no Leste de Minas foi Alto Jequitibá (Manhuaçu) e no Espírito Santo, São José do Calçado. Os primeiros pastores daqueles campos foram Matatias Gomes dos Santos, Aníbal Nora, Constâncio Omero Omegna e Samuel Barbosa. No Vale do Ribeira, o dinâmico evangelista Willes Roberto Banks continuava em atividade. A família Vassão daria grandes contribuições à igreja.

Em 1907, o Sínodo dividiu-se em dois (Norte e Sul) e em 1910 foi organizada a Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana do Brasil. O moderador do último sínodo e instalador da Assembléia Geral foi o veterano Modesto Carvalhosa, ordenado 40 anos antes. A Assembléia Geral foi instalada na Igreja do Rio de Janeiro e o Rev. Álvaro Reis foi eleito seu primeiro moderador. Os conciliares visitaram a Ilha de Villegaignon para lembrar os mártires calvinistas e comemorar o quarto centenário do nascimento de Calvino. Na época, a Igreja Presbiteriana do Brasil tinha 10 mil membros comungantes, outro tanto de menores e cerca de 150 igrejas em sete presbitérios. As demais denominações tinham os seguintes números – metodistas: 6 mil membros; independentes: 5 mil; batistas: 5 mil; e episcopais: cerca de mil. Em 1911, a IPB enviou a Portugal o seu primeiro missionário, Rev. João da Mota Sobrinho, que lá permaneceu até 1922.

Os missionários americanos continuavam em plena atividade. Devido a divergências quanto ao lugar da educação na obra missionária, a Missão Sul da PCUS dividiu-se em duas: Missão Leste (Lavras) e Missão Oeste (Campinas). O Rev. William Waddell fundou uma influente escola em Ponte Nova, Bahia. Pierce, um filho de Chamberlain, trabalhou na Bahia de 1899 a 1909. A obra presbiteriana no Mato Grosso começou nesse período: os pioneiros foram os missionários Franklin Graham (1913) e Filipe Landes (1915).

Em 1917, foi aprovado o Modus Operandi, um acordo entre a igreja brasileira e as missões norte-americanas pelo qual os missionários desligaram-se dos concílios da IPB, separando-se os campos nacionais (presbitérios) dos campos das missões. Em 1924, a Assembléia Geral reuniu-se pela primeira sem qualquer missionário como delegado de presbitério.


2.5 Cooperação (1917-1932)
O maior líder presbiteriano desse período foi o Rev. Erasmo de Carvalho Braga (1877-1932), professor do Seminário e secretário da Assembléia Geral. Em 1916, participou com dois colegas do Congresso de Ação Cristã na América Latina, no Panamá. Poucos anos depois, tornou-se o dinâmico secretário da Comissão Brasileira de Cooperação, entidade que liderou um grande esforço cooperativo entre as igrejas evangélicas do Brasil na década de 1920. As principais áreas de cooperação foram literatura, educação cristã e educação teológica. Foi fundado no Rio de Janeiro o Seminário Unido, que existiu até 1932.

Outros esforços cooperativos desse período foram: (1) Instituto José Manoel da Conceição, fundado pelo Rev. William A. Waddell na cidade de Jandira, perto de São Paulo (1928); visava preparar os jovens que depois seguiriam para o seminário. (2) Associação Evangélica de Catequese dos Índios (1928), depois Missão Evangélica Caiuá: idealizada pelo Rev. Albert S. Maxwell e instalada em Dourados, Mato Grosso, num esforço cooperativo das igrejas presbiteriana, independente, metodista e episcopal.

O Seminário de Campinas correu o risco de ser extinto por causa do Seminário Unido, mas finalmente superou a crise. Em 1921, o Seminário do Norte foi transferido para o Recife. As principais instituições educacionais das missões eram o Colégio Agnes Erskine, em Recife; Colégio 15 de Novembro (Garanhuns); Escola de Ponte Nova (Bahia); Colégio 2 de Julho (Salvador); Instituto Gammon (Lavras); Instituto Cristão (Castro) e principalmente o Mackenzie College. Os principais periódicos presbiterianos eram O Puritano e o Norte Evangélico.

Em 1924, a Assembléia Geral encerrou o trabalho missionário em Lisboa. No mesmo ano, Erasmo Braga e alguns amigos fundaram a Sociedade Missionária Brasileira de Evangelização em Portugal, que enviou para aquele país o Rev. Paschoal Luiz Pitta e sua esposa Odete. O casal ali esteve por quinze anos (1925-1940), regressando ao Brasil devido à constante falta de recursos.

Em 1921, morreu o Rev. Antonio Bandeira Trajano. Com ele desapareceu a primeira geração de obreiros presbiterianos no Brasil, os da década de 1860. Outros obreiros falecidos nesse período foram: Eduardo Carlos Pereira (1923), Álvaro Reis (1925), Carlota Kemper (1927), Samuel Gammon (1928) e Erasmo Braga (1932). Além do seu trabalho na área religiosa, vários dos pioneiros presbiterianos deram valiosa contribuição de ordem intelectual e literária. Alguns autores e os livros que os celebrizaram são os seguintes: Modesto Carvalhosa (Escrituração Mercantil), Antonio Trajano (Álgebra Elementar), Eduardo C. Pereira (Gramática Expositiva), Otoniel Motta (O Meu Idioma) e Erasmo Braga (Série Braga).


2.6 Organização (1932-1959)

Nas décadas de 1930 a 1950, a IPB continuou a crescer e a aperfeiçoar a sua estrutura, criando entidades voltadas para o trabalho feminino, mocidade, missões nacionais e estrangeiras, literatura e ação social. O período terminou com a comemoração do centenário do presbiterianismo no Brasil.

Nessa época, a igreja era constituída dos seguintes sínodos: (1) Setentrional: estendia-se de Alagoas até a Amazônia, estando o maior número de igrejas no Estado de Pernambuco; (2) Bahia-Sergipe: criado em 1950, quando o Presbitério Bahia-Sergipe, antigo campo da Missão Central, dividiu-se nos presbitérios de Salvador, Campo Formoso e Itabuna; (3) Minas-Espírito Santo: surgiu em 1946, abrangendo o leste de Minas e o Espírito Santo, a região de maior crescimento da igreja; (4) Central: formado em 1928, incluía o Estado do Rio de Janeiro, bem como o sul e o oeste de Minas Gerais; (5) Meridional: sínodo histórico (1910-47), abrangia São Paulo, Paraná e Santa Catarina; (6) Oeste do Brasil: foi formado em 1947, abrangendo todo o norte e oeste de São Paulo. No final da década de 50, foram entregues pelas missões os Presbitérios do Triângulo Mineiro, Goiás e Cuiabá.

Nesse período, as missões norte-americanas continuaram o seu trabalho: (1) PCUS: (a) Missão Norte: atuou no nordeste, onde o principal obreiro foi o Rev. William Calvin Porter (†1939); o campo mais importante era o de Garanhuns, onde estavam o Colégio 15 de Novembro e o jornal Norte Evangélico; (b) Missão Leste: atuou no oeste de Minas e depois em Dourados, Mato Grosso, cuja igreja foi organizada em 1951. (c) Missão Oeste: concentrou-se mais no Triângulo Mineiro, onde o casal Edward e Mary Lane fundou em 1933 o Instituto Bíblico de Patrocínio. (2) PCUSA: (a) Missão Central: seus principais campos eram Ponte Nova/Itacira, a bacia do Rio São Francisco, o sul da Bahia e o norte de Minas; (b) Missão Sul: atuou no Paraná e Santa Catariana, fundindo-se com a Missão Central por volta de 1937. O Rev. Filipe Landes foi grande evangelista no Mato Grosso (norte e sul). Em Rio Verde, Goiás, atuou o Rev. Dr. Donald Gordon, que fundou um importante hospital.

Trabalho feminino: as primeiras sociedades de senhoras surgiram em 1884-85 e as primeiras federações, na década de 1920. Os primeiros secretários gerais do trabalho feminino foram o Rev. Jorge T. Goulart e as sras. Genoveva Marchant, Blanche Lício, Cecília Siqueira e Nady Werner. O primeiro congresso nacional reuniu-se na I. P. Riachuelo, no Rio de Janeiro, em 1941; o segundo congresso realizou-se também no Rio em 1954. A SAF em Revista foi criada em 1954.

Mocidade: algumas entidades precursoras foram a Associação Cristã de Moços (Myron Clark), o Esforço Cristão (Clara Hough) e a União Cristã de Estudantes do Brasil (Eduardo P. Magalhães). Benjamim Moraes Filho foi o primeiro secretário do trabalho da mocidade, em 1938. O primeiro congresso nacional reuniu-se em Jacarepaguá em 1946, quando foi criada a confederação. Entre os líderes da época estavam Francisco Alves, Jorge César Mota, Paulo César, Waldo César, Tércio Emerique, Gutemberg de Campos, Paulo Rizzo e Billy Gammon.

Missões Nacionais: em 1940 foi organizada na I. P. Unida a Junta Mista de Missões Nacionais, com representantes da IPB e das missões norte-americanas. Entre os primeiros líderes estavam Coriolano de Assunção, Guilherme Kerr, Filipe Landes, Eduardo Lane, José Carlos Nogueira e Wilson N. Lício. Até 1958, a Junta ocupou quinze regiões em todo o Brasil, com cerca de 150 locais de pregação. Em 1950 foi criada a Missão Presbiteriana da Amazônia.

Missão em Portugal: os primeiros obreiros foram João da Mota Sobrinho (1911-1922) e Paschoal Luiz Pitta (1925-1940). Em 1944 a IPB assumiu o trabalho e foi criada a Junta de Missões Estrangeiras, com o apoio das igrejas norte-americanas. Os primeiros missionários foram Natanael Emerique, Aureliano Lino Pires, Natanael Beuttenmuller e Teófilo Carnier.

Outras organizações: (a) Casa Editora: começou a ser organizada em 1945, no início da Campanha do Centenário, sob a liderança do Rev. Boanerges Ribeiro. A primeira sede foi instalada em dependências cedidas pela I. P. Unida, na Rua Helvetia. (b) Orfanatos: em 1910, a Assembléia Geral planejou um orfanato para Lavras; em 1919, passou a funcionar em Valença, e em 1929 veio a ocupar uma propriedade da I. P. de Copacabana em Jacarepaguá. O orfanato foi denominado Instituto Álvaro Reis. (c) Conselho Interpresbiteriano (CIP): foi criado em 1955 para superintender as relações da IPB com as missões e as juntas missionárias dos Estados Unidos. Tinha mais autoridade que o “modus operandi” de 1917.

Outras igrejas: (a) Igreja Presbiteriana Independente: em 1957, foi criado o Supremo Concílio, com três sínodos, dez presbitérios, 189 igrejas, 105 pastores e cerca de 30 mil membros comungantes; O Estandarte continuou a ser o jornal oficial. No final dos anos 30 houve um conflito teológico. Em 1942, um grupo de intelectuais liberais (entre os quais o Rev. Eduardo P. Magalhães) retirou-se da IPI e formou a Igreja Cristã de São Paulo. (b) Igreja Presbiteriana Conservadora: foi fundada em 1940 pelos membros da Liga Conservadora da IPI. Em 1957, contava com mais de vinte igrejas em quatro estados e tinha um seminário. Seu órgão oficial é O Presbiteriano Conservador. (c) Igreja Presbiteriana Fundamentalista: foi fundada em 1956 pelo Rev. Israel Gueiros, pastor da 1ª I. P. de Recife e ligado ao Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (do líder fundamentalista norte-americano Carl McIntire).

Neste período, a IPB participou de vários movimentos cooperativos: Associação Evangélica Beneficente (fundada por Otoniel Mota em 1928), Associação Cristã de Beneficência Ebenézer (dirigida pelo Dr. Benjamin Hunnicutt), Missão Evangélica Caiuá, Instituto José Manoel da Conceição, Confederação Evangélica do Brasil (fundada em 1934), Sociedade Bíblica do Brasil, Centro Áudio-Visual Evangélico (CAVE, fundado em 1951) e Universidade Mackenzie, que seria transferida à IPB no início dos anos 60.

Constituição da IPB: em 1924, foram aprovadas pequenas modificações no antigo Livro de Ordem adotado quando da criação do Sínodo, em 1888. Em 1937, entrou em vigor a nova Constituição da Igreja (os independentes haviam aprovado a sua três anos antes), sendo criado o Supremo Concílio. Houve protestos do norte contra alguns pontos: diaconato para ambos os sexos, “confirmação” em vez de “profissão de fé” e o nome “Igreja Cristã Presbiteriana”. Em 1950, foi promulgada uma nova Constituição e no ano seguinte o Código de Disciplina e os Princípios de Liturgia.

Estatística: em 1957, a IPB contava com seis sínodos, 41 presbitérios, 489 igrejas, 883 congregações, 369 ministros, 127 candidatos ao ministério, 89.741 membros comungantes e 71.650 não-comungantes. Os primeiros presidentes do Supremo Concílio foram os Revs. Guilherme Kerr, José Carlos Nogueira, Natanael Cortez, Benjamim Moraes Filho e José Borges dos Santos Júnior.

A Campanha do Centenário foi lançada em 1946, tendo como objetivos: avivamento espiritual, expansão numérica, consolidação das instituições da igreja, afirmação da fé reformada e homenagem aos pioneiros. A Comissão Central do Centenário, organizada em 1948, enfrentou muitas dificuldades. Após 1950, a campanha ganhou ímpeto. A Comissão Unida do Centenário (IPB, IPI e Igreja Reformada Húngara) planejou uma grande campanha evangelística com a participação de Edwyn Orr e William Dunlap, que se estendeu por todo o país em 1952. Outras medidas foram a criação do Museu Presbiteriano, do Seminário do Centenário e do jornal Brasil Presbiteriano, resultante da fusão de O Puritano e Norte Evangélico (1958). A 18ª Assembléia da Aliança Presbiteriana Mundial reuniu-se em São Paulo de 27 de julho a 6 de agosto de 1959. O lema do centenário foi: “Um ano de gratidão por um século de bênçãos”.

Fonte: www.mackenzie.br
Síntese Histórica da Igreja Presbiteriana do Brasil

Alderi Souza de Matos

Para sua melhor compreensão, a história da IPB tem sido dividida em períodos claramente delimitados. A seguir são apresentados os principais dados de cada um desses períodos.

1. Implantação (1859-1869)
O missionário fundador da IPB, Ashbel Green Simonton (1833-1867), da Igreja Presbiteriana do Norte dos EUA (PCUSA), chegou ao Brasil em 1859. Nos anos seguintes, ele criou a Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro (1862), o jornal Imprensa Evangélica (1864), o Presbitério do Rio de Janeiro (1865) e o “Seminário Primitivo” (1867). Outras igrejas fundadas nesse período foram as de São Paulo, Brotas, Lorena, Borda da Mata e Sorocaba. Chegaram novos obreiros, como Alexander Blackford, Francis Schneider e George Chamberlain, e foi ordenado o primeiro pastor nacional, José Manoel da Conceição (1822-1873).

2. Consolidação (1869-1888)

Em 1869, chegaram os primeiros missionários da Igreja do Sul dos EUA (PCUS), George N. Morton e Edward Lane, que se estabeleceram em Campinas. Os missionários da PCUS evangelizaram a região da Mogiana, o oeste de Minas, o Triângulo Mineiro e o sul de Goiás. Também atuaram no Nordeste e no Norte, de Alagoas até a Amazônia. Os principais foram John R. Smith, John Boyle, DeLacey Wardlaw e George W. Butler. Por sua vez, os missionários da Igreja do Norte atuaram na Bahia e Sergipe e no sudeste-sul (do Rio de Janeiro a Santa Catarina). Em 1870, o Rev. Chamberlain fundou a Escola Americana de São Paulo, precursora do Mackenzie College, e em 1873 Morton e Lane criaram o Colégio Internacional, em Campinas. Entre os pastores nacionais desse período estiveram Modesto Carvalhosa, Antônio Trajano, Miguel Torres, Antônio Pedro de Cerqueira Leite, Eduardo Carlos Pereira, Zacarias de Miranda e Belmiro César. As igrejas-mães também enviaram educadoras como Mary Dascomb, Elmira Kuhl e Charlotte Kemper.

3. Dissensão (1888-1903)

Em setembro de 1888 foi organizado o Sínodo, composto de três presbitérios, 20 missionários, 12 pastores e 60 igrejas. A IPB tornou-se autônoma, desligando-se das igrejas norte-americanas. O Seminário começou a funcionar em Nova Friburgo e depois se transferiu para São Paulo. O Mackenzie College foi criado em 1891, sendo seu primeiro presidente o Dr. Horace Manley Lane. Por causa da febre amarela, o Colégio Internacional foi transferido de Campinas para Lavras, e mais tarde veio a chamar-se Instituto Gammon. A cidade de Garanhuns começou a tornar-se um grande centro da obra presbiteriana no Nordeste. Foram lançadas as bases de duas importantes instituições: o Colégio Quinze de Novembro e o Seminário do Norte. No final desse período a Igreja Presbiteriana chegou ao Pará, ao Amazonas e a Santa Catarina. A igreja também iniciou a ocupação do leste de Minas. Em 1903, o Rev. Eduardo Carlos Pereira e seus companheiros fundaram a Igreja Presbiteriana Independente.

4. Reconstituição (1903-1917)

Em 1906 o Sínodo contava com 77 igrejas e cerca de 6500 membros. Em fevereiro de 1907, o Seminário foi transferido para Campinas, ocupando a antiga propriedade do Colégio Internacional. No mesmo ano, o Sínodo dividiu-se em dois (Norte e Sul) e em 1910 foi organizada a Assembléia Geral, tendo como primeiro moderador o Rev. Álvaro Reis. Nessa época, a IPB já estava com 10 mil membros comungantes e cerca de 150 igrejas, em sete presbitérios. Em 1911, a igreja enviou a Portugal o seu primeiro missionário, Rev. João Marques da Mota Sobrinho. A Missão Sul da PCUS passou a atuar em duas frentes: Missão Leste (Lavras) e Missão Oeste (Campinas). O Rev. William Waddell fundou uma influente escola em Ponte Nova, na Bahia. Teve início a obra presbiteriana no Mato Grosso: os pioneiros foram Franklin Graham (1913) e Filipe Landes (1915). Em 1917, foi aprovado o Modus Operandi, um acordo entre a igreja brasileira e as missões norte-americanas pelo qual os missionários desligaram-se dos concílios da IPB, separando-se os campos nacionais (presbitérios) dos campos das missões.

5. Cooperação (1917-1932)
O maior líder desse período foi o Rev. Erasmo Braga (1877-1932). Em 1916, ele participou com dois colegas do Congresso da Obra Cristã na América Latina, no Panamá. Poucos anos depois, tornou-se o secretário da Comissão Brasileira de Cooperação, entidade que liderou um grande esforço cooperativo entre as igrejas evangélicas do Brasil. Foi fundado no Rio de Janeiro o Seminário Unido. Outros esforços cooperativos do período foram o Instituto José Manoel da Conceição, fundado pelo Rev. William Waddell em Jandira, perto de São Paulo (1928), e a Associação de Catequese dos Índios (1928), depois Missão Evangélica Caiuá, em Dourados (MS).

Em 1921, o Seminário do Norte foi transferido para Recife. Os principais periódicos presbiterianos eram O Puritano e o Norte Evangélico. Em 1921 morreu o Rev. Antônio Bandeira Trajano. Com ele desapareceu a primeira geração de obreiros presbiterianos no Brasil. Vários pastores deram valiosa contribuição de ordem intelectual e literária: Antônio Trajano (Álgebra Elementar), Eduardo Carlos Pereira (Gramática Expositiva), Otoniel Mota (O Meu Idioma) e Erasmo Braga (Série Braga).

6. Organização (1932-1959)

Nas décadas de 1930 a 1950, a IPB aperfeiçoou a sua estrutura, criando entidades voltadas para o trabalho feminino, a mocidade, missões nacionais e estrangeiras, literatura e ação social. Em 1940 foi organizada a Junta Mista de Missões Nacionais, com representantes da igreja e das missões norte-americanas. Em 1944 surgiu a Junta de Missões Estrangeiras e em 1950 foi criada a Missão Presbiteriana da Amazônia. Também houve a criação da Casa Editora Presbiteriana (1945). Neste período, a IPB participou de vários outros movimentos cooperativos: Associação Evangélica Beneficente, Confederação Evangélica do Brasil, Sociedade Bíblica do Brasil, Centro Áudio-Visual Evangélico. Em 1957 a IPB contava com seis sínodos, 41 presbitérios, 489 igrejas, 369 ministros, 89.741 membros comungantes e 71.650 não-comungantes.

O período terminou com a comemoração do centenário do presbiterianismo no Brasil. A Campanha do Centenário foi lançada em 1946. Realizou-se uma grande campanha evangelística em 1952. Outras medidas foram a criação do Museu Presbiteriano, do Seminário do Centenário e do jornal Brasil Presbiteriano (1958), resultante da fusão de O Puritano e Norte Evangélico. O lema do centenário foi: “Um ano de gratidão por um século de bênçãos”.

7. Polarização (1959-1986)

Nesse período, a igreja sofreu o forte impacto dos acontecimentos políticos ocorridos no Brasil, que resultaram no regime militar (1964-1984). Intensificou-se a polarização entre conservadores e progressistas que já vinha se manifestando há alguns anos. Os conservadores, defensores da teologia reformada tradicional, foram vitoriosos nesse confronto quando o Rev. Boanerges Ribeiro foi eleito presidente do Supremo Concílio, e reeleito duas vezes, a única vez em que isso ocorreu na história da IPB (1966-1978).

Boanerges foi sucedido por Paulo Breda Filho (1978-1986), o único presbítero a ocupar o cargo maior da igreja. Ao lado de grandes tensões, também houve desdobramentos construtivos como a transferência da Universidade Mackenzie para a IPB, a ampliação do trabalho de missões nacionais e estrangeiras, o aumento significativo do número de igrejas e concílios, e o crescimento numérico da denominação, que se aproximou da marca de meio milhão de membros comungantes e não-comungantes.

8. Período atual

Nas últimas décadas a IPB continuou a crescer e a diversificar as suas atividades. O ambiente político e teológico tornou-se mais conciliador, num ambiente de crescente pluralismo, mas ainda persistem tensões latentes. A igreja sofre o impacto dos novos movimentos que tem afetado o protestantismo brasileiro, especialmente nas áreas litúrgica e doutrinária. O neopentecostalismo tem exercido fascínio sobre muitos pastores e comunidades. No aspecto positivo, destacam-se a maior preocupação com a educação teológica, a criação de vínculos com igrejas reformadas ao redor do mundo, o investimento em missões transculturais, o notável crescimento na área de publicações e a utilização dos meios de comunicação de massa, como a televisão e a Internet. 

Fonte:www.mackenzie.br



CALVINO E GENEBRA: “A MAIS PERFEITA ESCOLA DE CRISTO”

Alderi Souza de Matos

      Em agosto de 1536, Calvino dirigia-se da França para Estrasburgo, onde pretendia residir. Queria tão somente pernoitar em Genebra, na Suíça, e seguir viagem no dia seguinte. Apenas dois meses antes, essa cidade havia abraçado a Reforma Protestante, sob a liderança do ardoroso reformador Guilherme Farel. Este convenceu o jovem autor das Institutas a permanecer em Genebra e ajudá-lo na consolidação do trabalho. Menos de dois anos depois, em virtude de conflitos com as autoridades civis, os dois pastores foram expulsos da cidade (abril de 1538).

      Calvino finalmente pode ir para Estrasburgo, onde residiu por três anos e colaborou com o reformador Martin Bucer. Nesse período, pastoreou uma igreja de refugiados franceses, lecionou em uma academia local e casou-se com uma de suas paroquianas, a viúva Idelette de Bure. Também se dedicou a uma intensa atividade literária, escrevendo uma versão ampliada das Institutas, o Comentário de Romanos (seu primeiro comentário bíblico), um tratado sobre a Ceia do Senhor e outras obras. Por insistência dos síndicos de Genebra, acabou retornando para essa cidade em setembro de 1541, ali permanecendo até o final da vida.

      Sob a hábil liderança de Calvino e seus colegas, Genebra se tornou a grande cidadela da fé reformada, recebendo refugiados e visitantes de muitos lugares da Europa. Essas pessoas, ao retornarem para os seus países, contribuíram para a ampla difusão do movimento reformado. Um desses refugiados foi o reformador escocês João Knox, que, em uma carta, referiu-se a Genebra como “a mais perfeita escola de Cristo que já existiu sobre a terra desde os dias dos apóstolos”.

      Ao longo dos anos, Calvino ajudou a estruturar a igreja reformada de Genebra, provendo-a de uma constituição, uma confissão de fé, um catecismo e uma liturgia, além de um hinário, o Saltério de Genebra, também idealizado por ele. O trabalho da igreja era realizado por quatro categorias de oficiais: pastores, mestres, presbíteros e diáconos. O reformador também empreendeu um vasto programa de pregação expositiva, ensino religioso e reflexão teológica, que resultou em um enorme volume de publicações. Suas idéias nos campos da dogmática, interpretação bíblica, política, responsabilidade social e outras áreas têm sido influentes há vários séculos.

      Ao contrário do que dizem muitos livros de história, Calvino jamais exerceu cargos políticos em Genebra e muito menos foi o “ditador” daquela cidade. Na realidade, durante a maior parte do seu ministério, ele teve um relacionamento difícil com as autoridades civis. Uma das causas dessas tensões era a sua insistência no sentido de que Genebra fosse uma cidade verdadeiramente reformada, em que os valores da Palavra de Deus se refletissem em todas as áreas da vida pessoal e comunitária. Algumas das maiores contribuições do reformador ocorreram nos últimos anos da sua vida. 

Fonte: www.mackenzie.br


Política, Cultura e Ética no Brasil: Um Problema Histórico


Alderi Souza de Matos


Nos últimos anos, os brasileiros têm ficado estarrecidos com uma sucessão interminável de casos de corrupção envolvendo diferentes setores dos poderes legislativo, executivo e judiciário, tais como o episódio do mensalão, a máfia das ambulâncias, a indústria de liminares e as recentes falcatruas envolvendo uma empreiteira. A Polícia Federal, agindo com empenho e eficiência inéditos, tem realizado um grande número de operações batizadas com nomes sugestivos, as quais tem recebido grande cobertura da mídia e causado forte impacto na opinião pública. Que os políticos brasileiros são, em grande número, indivíduos destituídos de um caráter íntegro e valores sólidos, é fato notório há muito tempo. O que impressiona nos casos recentes é a quantidade de funcionários públicos e até mesmo de membros do judiciário que têm enlameado a sua reputação ao se envolverem com as mais diferentes irregularidades. Por outro lado, alguns segmentos do setor privado não têm ficado para trás, participando de muitas fraudes, golpes e tramas sórdidas com o intuito de lesar o poder público e a população.

Para o governo, as operações e prisões realizadas indicam que finalmente está havendo uma luta eficaz contra o mal histórico da corrupção. Isso ainda está para ser provado, porque as condenações dos corruptos têm sido raras e a impunidade continua a ser a norma. Muito se tem falado e escrito sobre o assunto, mas poucos têm indagado sobre as causas mais profundas desses problemas. Por que são tão generalizadas no Brasil as práticas desonestas, em suas diferentes formas? Esse é um problema comum a todos os povos e nacionalidades ou existe alguma dificuldade específica com relação à cultura brasileira? Parece que os dois elementos dessa pergunta são parte da resposta.

O problema não é novoA situação vigente no Brasil lembra algumas afirmações dos profetas bíblicos ao descreveram as realidades do seu tempo. Isaías denunciou Jerusalém, dizendo: “Os teus príncipes são rebeldes e companheiros de ladrões; cada um deles ama o suborno e corre atrás de recompensas. Não defendem o direito do órfão e não chega perante eles a causa das viúvas” (Is 1.23). Oséias foi taxativo ao afirmar: “O que só prevalece é perjurar, mentir, matar, furtar e adulterar, e há arrombamentos e homicídios sobre homicídios” (Os 4.2). Na qualidade de porta-voz de Deus, Amós sentenciou: “Porque sei serem muitas as vossas transgressões e graves os vossos pecados; afligis o justo, tomais suborno e rejeitais os necessitados na porta” (Am 5.12). Miquéias também foi implacável ao avaliar os seus contemporâneos: “Ai daqueles que no seu leito imaginam a iniqüidade e maquinam o mal! À luz da alva o praticam, porque o poder está em suas mãos” (Mq 2.1); “As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e assim todos eles juntamente urdem a trama” (Mq 7.3).

As palavras dos profetas mostram que a maldade, a desonestidade e a corrupção são problemas humanos, em todos os tempos, lugares e culturas. Quando se busca entender a origem dos comportamentos anti-sociais, surgem as mais diversas teorias. Os evolucionistas alegam que essas atitudes resultam das experiências do homem primitivo, que vivia num contexto de intensa competitividade. Somente os mais aptos, ou seja, os mais espertos, astutos e manipuladores tinham condições de sobreviver, e esse traço psicológico teria se perpetuado na espécie. Os humanistas insistem que o ser humano é fundamentalmente bom e que os comportamentos anti-éticos são circunstanciais, resultantes da ignorância e do despreparo, e não de alguma distorção essencial da natureza humana. Numa época em que falar em pecado é tabu, torna-se mais difícil considerar uma outra possibilidade: o diagnóstico bíblico acerca da condição humana. Jesus Cristo colocou o problema em termos muitos claros e diretos ao afirmar que as condutas violadoras da integridade própria e alheia procedem em última análise da maldade inata do coração humano (Mt 15.19).

Um termo incômodoAo refletirem sobre a situação humana à luz das Escrituras, o reformador João Calvino e seus seguidores utilizaram uma expressão contundente – “depravação total”. Para eles, o homem natural, ou seja, não regenerado ou não redimido, é totalmente corrompido. O que isto significa? Não quer dizer que não haja nada de bom na pessoa humana. Ao contrário, em virtude de graça comum de Deus que atua em toda a criação, a humanidade é capaz de grandes realizações no âmbito da filosofia, literatura, ciência, arte, filantropia, etc. Ainda assim, a natureza humana padece de uma distorção profunda e misteriosa que afeta todas as dimensões da personalidade – mente, instintos, emoções, motivações, vontade. Essa propensão para o erro pode ser refreada por uma série de condicionamentos pessoais e sociais, mas a potencialidade para o mal – por vezes um mal horrível – está sempre presente, vindo à tona quando se apresentam as circunstâncias apropriadas.

Voltando à cultura brasileira, é comum ouvirmos afirmações estereotipadas de que o povo brasileiro é bom, honesto e trabalhador. À luz das Escrituras e da teologia cristã essa avaliação não é inteiramente correta. Lembrando a conhecida lenda a respeito das roupas finíssimas do rei, é preciso ter a ousadia de reconhecer que o rei está nu, que a nossa cultura nacional não é aquele modelo de virtude como tantas vezes se afirma. O funesto “jeitinho brasileiro” serve de acobertamento para um sem número de ações impróprias que prejudicam o Brasil e abortam o seu futuro como nação. É claro que há uma grande quantidade de pessoas que vivem honestamente, trabalham com seriedade, cumprem conscienciosamente as leis, dão uma contribuição altruísta para a coletividade. Ainda assim, o nível de desonestidade e ilegalidade existente em muitas áreas da sociedade brasileira é alarmante, pois os analistas afirmam que o que vem à tona é só a ponta do iceberg. Outra coisa que espanta é a quantidade de pessoas envolvidas em corrupção que ocupam posições elevadas, têm boa formação intelectual e parecem incapazes de deslizes tão graves.

O peso da história
É preciso tomar cuidado com as análises simplistas e as soluções fáceis. Atribuir as falcatruas brasileiras à pecaminosidade humana é necessário, mas não suficiente. Os crimes que nos assombram, sejam eles hediondos ou de colarinho branco, têm outros fatores condicionantes, entre os quais as terríveis deficiências da nossa formação histórica e cultural. Como é sabido, o Brasil não começou bem. Os primeiros moradores brancos eram aventureiros mais interessados em fazer fortuna do que em construir comunidades sólidas. O poder estatal se caracterizava pela ausência e omissão, exceto no que diz respeito ao recolhimento dos tributos. Outra chaga que marcou a formação cultural brasileira foi a escravidão. A igreja oficial era fraca, subserviente ao Estado e pouco fez pela formação moral da população. Durante séculos, o sistema educacional foi extremamente limitado e ineficaz. Assim, enquanto em outras nações desde o início foram cultivados valores como a responsabilidade cívica, o respeito às leis e a probidade no exercício da atividade pública, no Brasil imperou o individualismo (“cada um por si, Deus por todos”) e a ética da conveniência. Em um livro recente (A cruz, a coroa e a espada), o historiador Eduardo Bueno demonstra como o superfaturamento de obras, o desvio de verbas, o nepotismo e outros males estiveram presentes na administração pública brasileira desde o início.
Portanto, a sociedade e a cultura brasileiras têm sido reféns da sua história, encontrando dificuldade em superar as tremendas debilidades da sua formação. Os fatos demonstram que nem mesmo os cristãos evangélicos têm escapado a essas influências negativas e profundamente arraigadas. A cultura brasileira tem aspectos maravilhosos, invejados por outros povos: a alegria, a celebração da vida, o calor humano, a receptividade para com os de fora. Mas temos de reconhecer que valores éticos sólidos e um espírito coletivo não estão entre as suas características marcantes. E isso tem contribuído para que o Brasil se mantenha atrasado em tantos aspectos importantes, apresentando estatísticas vergonhosas em muitas áreas da vida nacional.

Conclusão
Diante dessas constatações dolorosas, nos perguntamos o que se pode fazer. Será preciso que o Brasil tenha de passar por uma comoção violenta, como alguma catástrofe de grandes proporções ou uma guerra devastadora, para que só então encontre forças para reconstruir a sua vida nacional sobre melhores bases? Isso já aconteceu com outros países, mas o preço pago foi terrível. Deus permita que as crescentes pressões em prol da moralidade no trato das questões públicas, o contínuo investimento numa educação que tenha como base a formação do caráter, a promoção de maior igualdade e justiça social, e o trabalho consciencioso das igrejas e de outras instituições da sociedade civil possam, somados, trazer dias melhores para o Brasil. Caso contrário, o futuro das próximas gerações não será auspicioso.

Fonte: www.mackenzie.br
Pioneiros da IPB - Família Simonton



Fazenda antigua - Condado de Dauphin


Rev. Ashbel Green


Capela Princeton


Capela Princeton 2


Nassau Hall - Princeton


Seminário de Princeton


Professores de Princeton


Ashbel Green Simonton


Ashbel Green Simonton 2


Helen Murdoch Simonton (filha)


Helen Murdoch Simonton (mãe)


Irmãos Simonton


James Simonton


Martha Simonton


Simonton e esposa


Simonton e filhinha


Registro do sepultamento de Simonton


Túmulos de Simonton e Conceição


Túmulo de Simonton


Seminário Western

Fonte: www.mackenzie.br