O lar, fonte de grande alegria
Referência: Rute 3.1-18
INTRODUÇÃO
Warren Wiersbe afirma corretamente que o livro de Rute é muito mais
do que o relato do casamento de uma estrangeira rejeitada com um
israelita respeitado. Também é um retrato do relacionamento de Cristo
com sua igreja. O casamento é um estado honroso. Ele foi instituído por
Deus para a felicidade do ser humano. Devemos orar fervorosamente,
pedindo a orientação de Deus para esta decisão vital da vida. Os pais
devem aconselhar cuidadosamente seus filhos acerca deste importante
assunto para que sejam bem-sucedidos. O casamento pode ser um canteiro
engrinaldado de flores ou um deserto árido; pode ser uma fonte de
alegria, um poço de amargura; pode ser um antegozo do céu ou o prenúncio
do tormento do inferno.
O casamento está sendo ameaçado por muitos inimigos. O homem
contemporâneo está banalizando essa sacrossanta e vetusta instituição
divina. Faz-se mais apologia do divórcio do que acerca do casamento. Os
casamentos mais decantados e badalados pela imprensa estão ruindo antes
mesmo de lançar suas raízes. Multiplicam-se os casos de infidelidade e o
número de divórcios. Poucos casais estão dispostos a enfrentarem juntos
os desafios da vida e vencerem juntos as crises próprias da vida
conjugal.
Nesse contexto turbulento, a mensagem do livro de Rute é de vital
importância. O casamento foi planejado por Deus para ser uma fonte de
alegria e não um flagelo para a alma. O cônjuge deve ser um aliviador de
tensões e não um verdugo emocional. A vida conjugal deve erigida sobre o
sólido fundamento do amor puro e não sobre os rotos fundamentos da
paixão carnal.
Antes de entrarmos na exposição do capítulo três de Rute, à guisa de introdução, destacamos três pontos importantes:
1. As tragédias que nos atingem não têm a última palavra em nossa vida
O livro de Rute fala da saga de uma família temente a Deus que num
tempo de fome deixou a sua cidade em busca de sobrevivência e encontrou a
própria morte.
Elimeleque, Noemi, Malom e Quiliom eram pessoas abastadas, que
moravam em Belém, a Casa do Pão (1.1,2). Eles pertenciam à aristocracia
de Belém e tinham uma vida abastada. Aquele era o tempo dos juízes, uma
época de crises repetidas e de grande instabilidade política, econômica,
moral e espiritual. Cada um seguia o seu próprio caminho. O povo andava
errante e sem o norte da verdade. Nesse tempo faltou pão na Casa do
Pão. Em vez de buscar a direção de Deus, essa família foge para Moabe.
Buscando, segurança, encontraram a doença. Correndo atrás da vida,
toparam com a própria morte. Em Moabe Elimeleque, Malom e Quiliom
buscaram a sobrevivência e encontraram a morte. Eles não encontraram a
prosperidade, mas uma sepultura.
Agora Noemi ficou só, desemparada, com duas noras viúvas, em terra
estrangeira. Mas, houve um rumor em Moabe de que Deus visitara o seu
povo, dando-lhe pão (1.6). Para Noemi não era apenas uma questão
econômica ou um novo horizonte social que se despontava, mas uma
visitação de Deus. Ela olhava para a vida na perspectiva de Deus.
Nessa volta à sua terra, sua nora Rute voltou com ela e fez com ela
uma aliança. Prometeu segui-la pelos caminhos da vida e da morte.
Prometeu ser fiel a ela, a seu povo e ao seu Deus (1.16,17). Aqui começa
uma das mais belas histórias da Bíblia. A carranca da tragédia abre um
largo sorriso para aquelas duas viúvas pobres. Do meio da escuridão
brota uma luz aurifulgente. A pobreza extrema vislumbra a chegada de uma
grande riqueza. A solidão acachapante defronta-se com a vida mais plena
de alegria. Noemi vislumbrou um novo horizonte na vida de Rute que
mudaria para sempre sua vida. Essa mudança radical e bendita passaria
pela experiência do casamento de Rute com Boaz. Noemi buscou um lar para
a sua nora (3.1). Ela queria que sua nora se casassee, fosse feliz e
tivesse um filho para perpetuar a memória de sua família.
2. O choro pode durar uma noite inteira, mas a alegria vem pela manhã
A crise não dura para sempre. A vida não é feita só de turbulências.
Depois da tempestade vem a bonança. Depois do choro vem a alegria.
Depois da dor vem o refrigério. Depois de anos de tristeza uma porta se
abre para Rute e Noemi e um novo futuro se descortina diante dos seus
olhos. Deus não apenas preparou um marido para Rute, mas um remidor para
ambas. Deus não apenas deu um lar a Rute, mas um lar feliz. Deus não
apenas fez dela uma mulher rica, mas a avó do grande rei Davi e a
ancestral do Messias (4.17; Mt 1.5).
3. A felicidade não é um lugar aonde se vai, mas uma maneira como se caminha
Muitos buscam a felicidade com sofreguidão e não a encontram, porque
ela não é um fim em si mesma. A felicidade não está aqui, ali, ou
alhures. A felicidade tem muito mais a ver como a maneira com se caminha
do que com o lugar aonde se chega. Rute buscou abrigo sob as asas de
Deus e ele satisfez os desejos do seu coração. A Palavra de Deus diz:
“Agrada-te do Senhor e ele satisfará os desejos do teu coração” (Sl
37.4).
Não há nada de errado em desejar a felicidade. Deus nos criou para a
experimetarmos em sua plenitude. O problema é nos contentarmos com uma
felicidade mundana, carnal e passageira. Deus nos criou para o maior de
todos os prazeres: conhecê-lo e amá-lo. O maior de todos os prazeres da
vida é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Esse é o maior propósito
da existência humana. Esse é o fim principal do homem. Deus é o nosso
maior deleite. Nele e só nele a felicidade pode tornar-se realidade.
Rute buscou a Deus e ele lhe deu um lar e a fez feliz.
Neste texto vamos examinar algumas lições sobre como ter felicidade no lar:
I. A NOSSA FELICIDADE PRECISA SER CONSTRUÍDA A PARTIR DO LAR (3.1-5)
1. A felicidade não é um fim em si mesmo (3.1)
Muitas pessoas buscam a felicidade como se ela fosse um tesouro que
se descobre no fim da jornada. Mas a felicidade é conhecida em como se
vive mais do que aonde se chega. Fernão Dias Paes Leme, o bandeirante
das Esmeraldas, emprenhou-se nas matas em busca das encantadoras pedras
verdes. Fez dessa busca a maior obsessão da sua vida. No final, com um
embornal cheio de pedras, mas com os dedos crispando de febre, caiu ao
chão no estertor da morte, apertando a sacola de pedras contra o peito,
como que desejando enterrá-las em seu coração. Pobre homem! O brilho das
pedras não puderam satisfaze-lhe a alma nem bafejar seu coração da
verdadeira felicidade.
Muitos buscam a felicidade no lugar errado: no dinheiro, no poder, na
fama, no sucesso. Muitas pessoas chegam ao topo da pirâmide social, mas
continuam infelizes. Deus colocou a eternidade no coração do homem e
coisas não podem satisfazê-lo. Há um vazio dentro do homem que nada
neste mundo pode preencher.
O rei Salomão distorceu como ninguém o sentido do casamento e da
família. Ele teve mil mulheres: setecentas princesas e trezentas
concubinas. Mas, longe de encontrar a felicidade nessa multiplicidade de
relacionamentos, encontrou a decepção. Esse rei que granjeou riquezas e
acumulou muitos tesouros buscou a felicidade na bebida, no dinheiro, no
sexo e na fama. Porém, tudo o que encontrou foi a vaidade (Ec 2.1-11). A
palavra “vaidade” significa bolha de sabão. Tem colorido, mas não
conteúdo; é bonito aos olhos, mas vazio de conteúdo.
2. A felicidade não pode ser construída à parte da família (3.1)
Muitas pessoas querem a felicidade a qualquer preço. Muitos buscam
construir sua felicidade sobre os escombros da infelicidade alheia.
Querem uma felicidade egoísta, uma felicidade no pecado, uma felicidade
que custa o casamento e a vida dos filhos. Essa felicidade dura pouco e
no fim tem um sabor amargo.
Quantas pessoas que na busca da riqueza, esquecem o cônjuge e
abandonam os filhos. Quantos que traem os votos firmados no altar,
quebram as promessas feitas na presença de Deus e rompem com a aliança
do matrimônio para viverem aventuras pejadas de paixão. Nessa corrida
ensandecida pisam no cônjuge, ferem a família, esmagam emocionalmente os
filhos e deixam para trás um rastro inglório de grandes infortúnios. O
diabo é um estelionatário e o pecado é um fraude. O pecado não compensa.
O prazer que ele oferece tem cheiro de enxofre. A morte está presente
no DNA do pecado. Assim como é impossível colher figos dos espinheiros,
também é impossível experimentar a verdadeira felicidade no pecado.
Nenhum sucesso compensa o fracasso da família.
Muitos se deixam seduzir pelo fascínio da riqueza, e acabam levando
sua família para a destruição. O filme O Advogado do Diabo retrata em
cores vivas o perigo de se inverter as prioridades da vida, sacrificar o
casamento e tripudiar sobre os valores absolutos para alcançar riqueza.
O fim dessa linha é a dor, a frustração e a morte.
3. As pessoas mais felizes são aquelas que entenderam que a felicidade precisa ser centrada na família (3.1)
A Bíblia diz que Ló na busca da riqueza, levou sua família para
Sodoma e lá perdeu não só suas riquezas, mas também sua família. Davi
para satisfazer um desejo sexual proibido com Bate-Seba, afundou sua
família num mar de sangue, de conspirações e mortes. Salomão na busca da
felicidade em seus múltiplos casamentos, perdeu seu coração e sua fé
genuína em Deus.
A verdadeira felicidade deve ser construída em torno da família. É
melhor ser pobre havendo harmonia no lar do que celebrar banquetes com
contenda. Melhor é o bom nome do que a riqueza. A mulher virtuosa vale
mais do que finas jóias. Um casamento feliz é mais excelente do que a
mais pujante fortuna. John Rockfeller disse que nunca havia conhecida
tão pobre como aquele que só possuia dinheiro. O dinheiro em si não traz
felicidade. As pessoas mais felizes não são aquelas que mais têm. As
mais mais felizes não são aqueles que vivem empavonadas, mas aquelas que
chegam em casa com a roupa suja de graxa. Nada se compara a uma família
unida, onde o amor é o alicerce da comunhão.
II. AS FRUSTRAÇÕES DO PASSADO NÃO PODEM IMPEDIR SUA FELICIDADE HOJE (3.1)
Os problemas que nos afligem podem trazer-nos grandes transtornos: O
marido e os filhos de Noemi haviam morrido prematuramente. Abraão morreu
farto de dias. Jó viu os filhos dos filhos até a quarta geração. Mas
Elimeleque e seus filhos morreram sem deixar sequer um descendente. A
morte prematura traz grandes transtornos e profundas angústias. Um
médico amigo, que perdera seu filho de dezessete anos, acadêmico de
medicina, vitimado por uma doença súbita, chorava desconsolado dizendo
não aceitar que seu filho tenha furado a fila e passado em sua frente.
Aquele homem nunca conseguiu superar aquela dor que assolou seu peito.
Noemi agora não tem marido, não tem filhos, nem dinheiro. Parece que
tudo havia acabado. Mas, das sombras espessoas do sofrimento brota uma
luz de esperança. Das cinzas da derrota levanta-se um prenúncio de
inaudita vitória. Nas miragens do deserto, ela vislumbra o oásis que lhe
dessedentou a alma. Quando nossos recursos acabam os celeiros de Deus
continuam abarrotados. Quando perdemos o controle, Deus continua nos
conduzindo em triunfo.
Alguns fatos nos chamam a atenção:
1. As tragédias do passado podem produzir grande amargura em nossa alma (1.20)
Noemi partiu de Belém feliz e voltou amarga. Em dez anos ela perdeu
seus bens, seu marido, seus filhos, seus sonhos. Ela quer mudar de nome.
Noemi significa feliz, alegre. Ela quer ser chamada de Mara, amargura.
Os problemas da vida podem azedar a nossa alma, podem roubar os nossos
sonhos. Noemi perdeu a razão para sorrir. A felicidade fugiu da sua vida
e ela começou a amargar uma tristeza sem consolo e uma dor sem cura.
Torrentes caudalosas de perdas desabaram sobre sua casa. Avalanches
rolaram dos penhascos alcantilados e inundaram sua vida, enchendo seu
peito de dor e mágoa. Ela ergueu um monumento permanente para celebrar a
sua dor. Ele trocou de nome. Ela reescreveu a sua história e a nova
versão era mais sombria que a primeira.
2. As tragédias do passado podem embassar nossa percepção espiritual (1.21)
Noemi pensou que Deus estava contra ela. Ela estava olhando para a
vida com lentes escuras e interpretando as providências divinas por uma
perspectiva falha. Ela só conseguia ver o castigo de Deus e não a sua
providência. Noemi não só estava triste, ela estava triste com Deus. Ela
responsabilizou Deus pela sua tragédia. Noemi viu Deus como seu inimigo
e não como seu refúgio. Ela pensou que Deus estava trabalhando contra
ela e não por ela. Ela ergueu sua voz para extravasar sua mágoa contra
Deus em vez de exaltar e glorificar a Deus.
Muitos ainda hoje, olham a vida pelo avesso. Enxergam as providências
de Deus como um emaranhado de grande confusão sem nenhum propósito.
Assim, perdem a doçura, perdem a alegria e perdem a comunhão com Deus.
Vêem-no como carrasco e não como consolador. Encontram nele não abrigo,
mas pesado tormento.
3. As tragédias do passado não são permanentes, a crise não dura para sempre (3.1)
Não apenas Noemi, mas Rute também tinha tudo para desesperar-se da
vida. Ela era gentia. Ela havia perdido o sogro, o cunhado, o marido.
Rute não teve filhos. Ela tem uma sogra viúva, pobre e desamparada. Ela
está em terra estrangeira, longe da sua família. Naquela época ser viúva
pobre era estar em total desamparo.
Mas quando você está no fim da linha, no fundo do poço, no
esgotamento dos seus recursos, sentindo-se em terra estranha Deus pode
intervir, pode mudar o cenário, pode abrir-lhe a porta da esperança. À
pobre viúva Deus lhe deu não apenas um marido íntegro, bondoso e leal,
mas um marido rico e cheio da graça de Deus. A providência divina lhe
proporcionou não apenas uma casa farta de bens, mas também cheia de
felicidade. Deus pode lhe fazer feliz ainda hoje.
4. A felicidade não está apenas em ter um cônjuge, mas um lar (3.1)
Noemi não buscou um marido para Rute, mas um lar. Muitos querem
apenas se casar e por isso tomam decisões apressadas. É melhor ficar
sozinho do que fazer um casamento precipitado. A Bíblia diz que do
Senhor vem a esposa prudente. A Palavra de Deus diz que quem encontra
uma esposa, achou a benevolência do Senhor. Não busque apenas um
cônjuge, busque um lar!
O casamento é um passo muito sério para ser tomado sem reflexão. Um
casamento precipitado pode ser motivo de mais dor que alegria, de mais
choro que sorriso, de mais infelicidade do que prazer. Ouça os conselhos
dos mais experientes. Tenha cautela na busca de um cônjuge. Você
precisa de um lar e não apenas de um cônjuge.
III. A FELICIDADE DO LAR PRECISA SER EDIFICADA SOBRE O FIRME FUNDAMENTO QUE É DEUS (3.10)
1. A felicidade de Rute está no fato de que ela converteu-se primeiro a Deus, antes de buscar um marido (2.12; 2.16,17; 3.10)
Rute era uma moabita. Ela era adoradora de uma divindade pagã, o deus
Camos. Ela não conhecia o Deus vivo. Mas logo que o seu marido morreu,
ela deixou sua terra, sua parentela, seus deuses e abraçou o Deus da sua
sogra. Ela converteu-se ao Deus vivo. Ela disse: “Aonde quer que tu
fores, irei também; aonde quer que pousares, ali pousarei; o teu povo é o
meu povo, o teu Deus é o meu Deus. onde quer que morreres, morrerei eu e
ali eu serei sepultada; faça-me o Senhor o que bem lhe aprouver, se
outra coisa que não seja a morte me separar de ti” (1.16,17).
Um dos grandes problemas do casamento misto é que primeiro a pessoa
busca o cônjuge antes de buscar a Deus; busca a sua vontade mais do que a
vontade de Deus.
Porque Rute buscou a Deus em primeiro lugar, Deus lhe deu um marido
crente, rico, generoso, e ela tornou-se avó do grande rei Davi e membro
da genealogia do Messias. Deus honra aqueles que o honram!
2. A felicidade de Rute está no fato de que ao buscar a Deus
em primeiro lugar, não apenas encontrou um marido, mas também um remidor
(3.9)
Boaz foi para Rute um levir e um remidor. A Lei de Moisés requeria
que quando um homem morria sem deixar filhos, um parente próximo poderia
casar-se com a viúva (Dt 25.5-10), perpetuando assim o nome da família.
Rute era um viúva sem filhos. Sua sogra não tinha mais filhos para ela
desposar. Boaz, por sua vez, era um parente próximo de Elimeleque.
Assim, ele estava qualificado para ser o remidor de Rute, casando-se com
ela. O que é importante é que ele não só estava qualificado, mas também
estava desejoso de casar-se com ela. Boaz perpetuou a descendência de
Elimeleque e Malom, bem como tirou Rute e Noemi da pobreza. A Palavra de
Deus diz: “Agrada-te do Senhor e ele satisfará os desejos do seu
coração” (Sl 37.4).
A Bíblia diz que casualemente Rute foi rebuscar no campo de Boaz.
Casualmente Boaz a viu. Casualmente ele se afeiçoou a ela. Porém, as
nossas casualidades são expressas manifestações da providência divina
(2.20). Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.
IV. A FELICIDADE DO LAR PRECISA PASSAR PELA INTEGRIDADE DOS CÔNJUGES (3.11)
1. Rute era uma mulher de grandes qualidades morais (3.11)
A felicidade de Rute foi pavimentada pela sua própria vida. Vejamos alguns atributos dessa jovem viúva moabita:
Em primeiro lugar, Rute era uma mulher convertida ao Deus vivo
(1.16,17). Rute, à semelhança de Abraão, deixou sua parentela e foi para
uma terra distante por causa da sua fé no Deus vivo. Deus passou a ser o
seu Senhor. Rute buscou abrigo debaixo das asas de Deus (2.12) e Boaz a
chama de bendita de Deus (3.10).
Em segundo lugar, Rute era uma mulher trabalhadora (2.2,15-17). Rute é
uma mulher que tem expediente, que tem coragem para trabalhar e faz
tudo quanto está ao seu alcance. Rute não era uma peça de porcelana, uma
taça de cristal. Ela tinha fibra, tinha punhos de aço e mãos adestradas
para o trabalho.
Em terceiro lugar, Rute era uma mulher que tinha um lindo
relacionamento com sua sogra (1.16,17; 2.11,12,18,22,23; 3.1; 4.15).
Rute fez uma aliança de amor com sua sogra. Noemi trata Rute como a uma
filha. O amor e o cuidado de Rute por Noemi já era um fato conhecido na
cidade de Belém (2.11,12). A fama de Rute a precedeu em Belém. Rute é
uma mulher leal. Ela não despreza a sua sogra logo que as coisas começam
a melhorar para ela. As duas têm um profundo amor uma pela outra. Noemi
é conselheira de Rute; Rute, discípula de Noemi. Mesmo depois que Rute
se casou e teve um filho, é dito sobre ela: “sua nora te ama e é melhor
de que sete filhos” (4.15).
Em quarto lugar, Rute era uma mulher de bom testemunho em toda a
cidade (3.11). Rute foi uma mulher que impactou a cidade não pela sua
beleza, mas pelas suas virtudes. Sua beleza interior era mais esplêndida
do que sua beleza exterior. O maior patrimônio que possuímos é o nosso
nome, o nosso caráter. O bom nome vale mais do que as riquezas.
2. Boaz era um homem de grandes qualidades morais (3.8-10)
Três atributos de Boaz destacam-se neste texto:
Em primeiro lugar, Boaz era um homem íntegro (3.8-10). Uma mulher
jovem, bonita, bem-vestida, perfumada, está aos seus pés à meia-noite.
Se não fosse um homem íntegro teria abusado de Rute naquela
circunstância. O maior desafio da integridade é quando nenhum olho está
sobre você. O segredo mais secreto aqui na terra é um escândalo aberto
no céu.
Um pastor que estava viajando para o exterior, resolveu beber. Depois
da oitava dose, já com fala pastosa, pediu mais uma dose e a aeromoça
lhe disse: “pastor, eu acho que o senhor devia parar”. A aeromoça era
crente e conhecia o pastor.
Ricardo Gondim diz que Boaz manteve-se íntegro em duas circunstâncias diferentes:
Ser íntegro é manter-se fiel aos seus princípios às escondidas. O
maior desafio da integridade é quando nenhum olho está sobre você. Boaz
permanece íntegro depois de ter bebido vinho, à noite, no recesso da sua
eira, tendo uma mulher bonita deitada aos seus pés. O conceito de
integridade não é agir hipocritamente na presença dos conhecidos. Você é
a pessoa que se revela quando está longe dos holofotes.
Ser íntegro é saber lidar com a vulnerabilidade do próximo. Há muitos
que manipulam, exploram, aproveitam a fraqueza dos outros para tirar
vantagem. Ser íntegro é ser respeitador. Boaz não se aproveita de Rute.
Ele a abençoa. Ele a ama, mas quer fazer as coisas direito, no seu
tempo. Ele sabe esperar!
Em segundo lugar, Boaz era um homem generoso (3.15-17). Boaz fazia
mais do que a lei exigia. Ele ia além. Ele era generoso (2.15,16).
Agora, Boaz não permite Rute voltar para sua sogra de mãos vazias. Ele é
um abençoador. Ele tem seu coração cheio de generosidade e suas mãos
abertas para ofertar. Você tem sido generoso na sua casa? Você é
generoso com as pessoas. Tive o grande privilégio de hospedar-me certa
feita na casa de um pesbítero na cidade de Brasília. Ele é um homem
próspero e generoso. Ao descer do quarto para tomar o café da manhã, no
domingo antes do culto, ele me deu um envelope. Pensei que se tratasse
de algum pedido de oração. Quando abri, era uma oferta. Ele, então, me
explicou: Deus tem me dado mais do que preciso. Ele tem sido generoso
comigo. Então, resolvi que toda vez que hospedar uma pessoa ou encontrar
um pastor, servo de Deus, darei a ele uma oferta de amor. Meu coração
ficou comovido com aquele gesto e mais uma vez, vi cumprida a Palavra de
Deus: “A alma generosa prosperará”.
Em terceiro lugar, Boaz era um homem leal (3.12,13). Boaz afeiçoou-se
a Rute desde o primeiro dia em que ele a viu. As virtudes de Rute
saltaram aos seus olhos e ele fez questão de revelar isso a ela e aos
demais através da generosidade com que a tratou. Porém,quando Rute lhe
pediu para ser o seu remidor, ele foi honesto com ela, dizendo que havia
um outro que tinha a preferência na ordem de redimi-la. Boaz não fez
nenhuma manobra nem lançou mão de nenhum artifício para buscar seus
próprios interesses. Boaz era um homem de caráter.
V. A FELICIDADE NO LAR PRECISA PASSAR PELO CUIDADO DA BELEZA INTERIOR E EXTERIOR – (3.3,4)
1. Rute cuida da sua beleza interior (3.11)
Rute era uma mulher conhecida na cidade de Belém por sua integridade:
“…toda a cidade do meu povo sabe que és mulher virtuosa” (3.11). A
Bíblia diz: “Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme
ao Senhor, essa será louvada” (Pv 31.30). A Palavra de Deus ainda
afirma: “Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de
cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem
interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e
tranquilo, que é de grande valor diante de Deus” (1Pe 3.3,4).
A Bíblia diz: “…as mulheres, em traje decente, se ataviem com
modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada, e com ouro, ou pérolas,
ou vestuário dispendioso, porém com boas obras como é próprio às
mulheres que professam ser piedosas” (1Tm 2.9,10).
As virtudes de Rute são mais destacas que os seus dotes físicois. A
base de um casamento feliz não é a beleza física. Essa acaba com os
anos. As rugas chegam. Os cabelos ficam brancos. O nosso vigor murcha
como uma flor à expoção do calor do sol. Mas a beleza interior
resplandece ainda mais.
2. Rute cuida da sua beleza exterior (3.3,4)
Rute quer constituir um lar. Ela quer perpetuar a memória do seu
sogro e do seu marido. Naquela época um homem morrer sem deixar
descendência era acabar de vez com o sonho de fazer parte da
descendência do Messias.
Rute, então, prepara-se como uma noiva para o seu casamento. Ela se
unge, veste seus melhores vestidos. Rute procura um marido, um lar
feliz, mas se prepara para isso. Ela se cuida. Ela cuida da sua
aparência. O homem é despertado pelo olhar. Os homens gostam de olhar e
as mulheres gostam de ser olhadas.
Alguns pontos merecem destaque aqui:
Em primeiro lugar, Rute seguiu à risca as orientações da sua sogra,
uma mulher mais experiente (3.5,6). Noemi era uma mulher experiente. Ela
já estava velha para se casar, mas ainda sabia as regras mais adequadas
para se conquistar um homem de caráter. Obeceder os conselhos das
pessoas mais experientes pode pavimentar o caminho da felicidade.
Em segundo lugar, Rute associa a apresentação pessoal com prudência
(3.3). Rute preparou-se para encontrar-se com Boaz. Havia outros homens
que não teriam hesitado em se casar com ela (3.10), mas estes não
poderiam tê-la redimido. Somente um parente resgatador poderia fazer
isso, e Boaz era esse parente. Nessa preparação Rute fez cinco coisas:
lavou-se, ungiu-se, trocou de roupas, aprendeu como apresentar-se a Boaz
prometeu obedecer. Rute está bem-vestida e perfumada, mas espera a hora
certa de fazer a abordagem a Boaz. A paciência é a primeira
característica do amor. A precipitação pode botar tudo a perder. Hoje
temos dois extremos: desleixo ou sensualidade. A sensualidade não pode
tomar o lugar da pureza interior e do recato. Rute deita-se aos pés de
Boaz e não no colo dele.
Em terceiro lugar, Rute é ousada na sua abordagem, mas recatada em
seus gestos (3.4,8). Ela não espera o milagre de um casamento assentada
em sua casa. Ela vai na direção de Boaz. Ela caminha na direção da
realização do seu sonho. Ela não fica passiva, de braços cruzados
esperando algo acontecer. Ela toma a iniciativa. Porém, Rute não se joga
sobre Boaz, deitando em seu colo. Ela se deita ao seus pés. Ela não
seduz Boaz com seus dotes físicos, mas conquista seu coração pelas suas
virtudes morais.
Em quarto lugar, Rute é específica e elegante no seu pedido de
casamento (3.9). Ela pede a Boaz para lançar sobre ela a sua capa,
porque ele era o candidato legítimo e legal para casar-se com ela e
suscitar uma descendência legítima à família de Elimeleque. Ele era o
resgatador. Leon Morris diz que “atirar o manto sobre uma mulher seria
pedi-la em casamento”. David Atkinson na mesma linha de pensamento,
citando Ezequiel 16.8, diz que estender a capa era um delicado pedido de
casamento. Rute havia se colocado sob as asas de Iavé (2.12). Agora,
ela procura colocar-se sob as asas de Boaz (3.9). A palavra para “manto”
que apareci aqui em Rute 3.9 é a mesma palavra “asas” que aparece em
Rute 2.12.
Em quinto lugar, Rute e Baoz são puros no seu agir (3.14). É
importante observar que Boaz e Rute só se relacionaram sexualmente
depois do casamento público (3.14; 4.13). Isso está de acordo com o
princípio de Deus em Gênesis 2.24. Sexo antes do casamento está em total
desacordo com os princípios de Deus!
VI. A FELICIDADE NO LAR PASSA PELA OBEDIÊNCIA AOS SÁBIOS CONSELHOS (3.5)
A felicidade passa pelo mentoreamento das pessoas mais experientes.
Noemi torna-se conselheira de Rute e Rute discípula de Noemi. Algumas
coisas nos chamam a atenção:
Em primeiro lugar, a obediência de Rute (3.5). Noemi orienta, sua
nora obedece. Os costumes judaicos do levirato eram estranhíssimos para
Rute, mas ela obedece. O grande fruto da fé é a obediência. A Bíblia
fala do conselho de uma empregada doméstica na casa do comandante da
Síria. Ele foi curado da sua lepra ao atender o conselho do profeta
Eliseu de mergulhar no Rio Jordão sete vezes.
Muitas pessoas sofrem porque seguem conselhos errados, buscam fontes
venenosas. Mas o bom conselho, na hora certa, com a motivação certa pode
ser uma bênção.
A Bíblia diz que as mulheres mais velhas devem ensinar as mais novas a
amarem seus maridos: “quanto às mulheres idosas… sejam mestras do bem, a
fim de instruírem as jovem recém-casadas a amarem ao marido e aos seus
filhos” (Tt 2.3,4).
Em segundo lugar, a humildade e o recato de Rute (3.9). Boaz já tinha
se agradado de Rute no campo. E ela sabia disso, as mulheres percebem
essas coisas, mas quando ele lhe pergunta: ela responde “tua serva”. Ela
não disse: “tua paixão, o novo amor da tua vida”.12 Agostinho disse: “O
orgulho trasnformou anjos em demônios, a humildade trasnforma homens em
santos”.
Em terceiro lugar, a confiança de Rute em Deus (3.10). Rute não saiu
correndo atrás de nenhum jovem ou qualquer outro homem. Ela dirigiu-se a
Boaz e por isso foi abençoada. Ela confiou na providência divina e Deus
a honrou. Ela não manipulou nem engendrou artifícios. Ela não fez
nenhuma armação, mas agiu de acordo com a orientação recebida de sua
sogra.
Em quarto lugar, o descanso de Rute na promessa de Boaz (3.11). Boaz
empenhou sua honra e sua palavra de que cumpriria os desejos do coração
de Rute e trabalharia na direção de atender plenamente o seu pedido. A
razão que ele apresenta é a excelente reputação de Rute. Ela tornara-se
muitíssimo popular entre todos os habitantes da cidade. Todos sabiam das
suas excelentes qualidades morais.
Em quinto lugar, a paciência de Rute (3.18). Noemi era uma profunda
conhecedora da natureza masculina. Afinal de contas, ela convivera com
três homens em sua casa, seu marido e seus dois filhos. Ela sabia que
Boaz já estava ligado emocionalmente a Rute. Ela sabia que ele não
descansaria até desembaraçar-se das questões legais e desposar Rute e
tê-la para si. A paciência de Rute era um ingrediente fundamental no
processo para a consumação daquele feliz casamento. Quem ama sabe
esperar.
CONCLUSÃO
O livro de Rute nos ensina que o caminhado da felicidade é traçado
pela mão soberana da providência. William Cowper disse que “por traz de
toda providência carrancuda, esconde-se uma face sorridente”.
Deus mudou a sorte de Noemi e de Rute. Elas foram consoladas. Deus
ainda continua transformando o desespero em porta da esperança e a
amargura em felicidade. Deus continua transformando a pobreza em riqueza
e a solidão em cenários de abundante felicidade.
Fonte:
Hernandes Dias Lopes IPB