A FALTA DE IMAGINAÇÃO DOS NEOLIBERAIS
Rev. Augustus Nicodemus Lopes
IPB
Nunca me esqueci de uma frase que ouvi quando seminarista em Recife
do já saudoso pastor presbiteriano João Campos (tem um ainda vivo com
este mesmo nome e que mora em São Paulo): "Seja um jovem prá frente mas não deixe Jesus para trás". Acho que ele, sem saber, resumiu num nutshell o segredo de ser progressista sem ser liberal e a razão pela qual falta imaginação aos teólogos neoliberais.
Quem pensa que a teologia conservadora cristã (de Agostinho a
Calvino, e de lá, passando pelos puritanos, aos calvinistas modernos) já
disse tudo o que se podia dizer sobre a Trindade, por exemplo, e que
não resta mais nada a não ser conservar o dogma da Trindade e batalhar
pela fé que uma vez por todas foi dada aos santos, deveria ler John
Frame e Vern Poythress para ver como teólogos conservadores podem ser
prá frente sem deixar Jesus para trás. Ambos são apologetas de
Westminster e aplicaram de forma criativa a doutrina da Trindade à
hermenêutica e à apologética, continuando a visão seminal de Cornelius
Van Til. Sem romper com os pressupostos históricos e bíblicos acerca da
natureza Triúna do único Deus, abriram novos horizontes quanto às
implicações dessa Triunidade em disciplinas correlatas.
O problema dos neoliberais, à semelhança dos velhos teólogos liberais
do passado, é que pensam que só podem ir em frente se romperem
radicalmente com tudo o que ficou para trás. Acreditam que o
conhecimento só avança com a mudança dos fundamentos sobre os quais se
ergueu o edifício de toda a teologia antes deles. Se lessem Nancey
Pearson e outros historiadores evangélicos da ciência, veriam que os
avanços da ciência moderna se deram, não com a descoberta de fatos novos
que invalidaram os antigos, mas com uma mudança de atitude para com os
mesmos fatos de antes.
É preciso mais imaginação e criatividade para ser progressista na
teologia sem abandonar os pressupostos cristãos históricos do que
simplesmente jogar o passado fora e recomeçar. O que virá dai nem será
algo novo e muito menos cristão, uma vez que as linhas mestras foram
abandonadas.
O que a teologia brasileira precisa não é uma crise de rompimento
radical com tudo que veio antes. Não queremos reinventar a roda. Mas
precisa de imaginação e criatividade para erguer um edifício novo sobre o
firme fundamento já lançado pelos antigos. Ser teólogos prá frente sem
deixar Jesus para trás.
Fonte: http://tempora-mores.blogspot.com
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