Vida de Servo - Romanos 12
O Apóstolo
Paulo, nesta carta aos Romanos, como costuma fazer em alguns de seus
escritos, apresenta primeiro uma parte doutrinária – a colocação dos
fundamentos da fé - após passa à uma parte prática – expressões da vida
cristã. A doutrina gera a prática. A prática é fruto da doutrina ministrada.
No capítulo 12 se inicia a parte prática da carta que contém três
significativos assuntos: a conduta pessoal do cristão, a atitude do cristão
diante dos não cristãos e o convívio entre os cristãos. Queremos,
entretanto, fazer algumas reflexões sobre o conteúdo dos dois primeiros
versículos desse capítulo.
É impressionante
como Paulo pode, em apenas dois versículos, concentrar tantos ensinos. Ele
inicia o capítulo com um verbo apelativo: rogar. Esse termo nos faz sentir
que havia um grande anseio no coração de Paulo em transmitir, àqueles que
designa como: “chamados para serdes de Jesus Cristo” (Romanos 1.6),
princípios importantes para a vida cristã vitoriosa. Paulo sabia, muito
bem, que os discípulos que compunham a comunidade em Roma, viviam em uma
sociedade tremendamente pecaminosa e, agora, convertidos à fé cristã, nela
deveriam viver, integralmente, como novas criaturas em Cristo Jesus.
O mesmo acontece
conosco hoje. Nós, discípulos do Senhor Jesus, vivemos, também, em uma
sociedade corrupta e é nela que devemos testemunhar a vida cristã autêntica.
A ciência e outros aspectos da sociedade humana evoluíram, enquanto a vida
moral, a ética e a conduta continuam sob as mesmas falhas, erros, pecados e
maldades de todas as épocas anteriores. É nessa sociedade impiedosa que,
como cristãos, precisamos expressar os valores da vida do Senhor que reside
em nós.
O anseio de que
os cristãos vivam a nova vida que possuem em Cristo ativamente - vida
completamente diferente da forma que o mundo apresenta - levou Paulo a fazer
essa veemente súplica: “Rogo, pois, irmãos”. É um caloroso chamado que seu
zelo apostólico faz àqueles que nasceram de novo em Cristo Jesus. Escrevendo
aos Gálatas, Paulo demonstrou o mesmo cuidado para aqueles que estavam sob
seu pastoreio: “meus filhos, por quem, de novo, sofro as dores de parto, até
ser Cristo formado em vós” (Gálatas 4.19). A diligência pelos filhos
espirituais o levava a desmedidos sacrifícios!
O que, agora,
Paulo roga aos romanos é, justamente, em outras palavras, o mesmo que
requereu dos Filipenses: “Vivei, acima de tudo, por modo digno do evangelho
de Cristo, para que, ou indo ver-vos ou estando ausente, ouça, no tocante a
vós outros, que estais firmes em um só espírito, com uma só alma, lutando
juntos pela fé evangélica” (Filipenses 1.27). Os que já nasceram de novo,
apesar de estarem unidos a Cristo por uma aliança eterna, precisam,
entretanto, moldar ainda mais as suas vidas segundo aquilo que o Senhor quer
encontrar neles: obediência total à sua vontade que é boa, agradável e
perfeita.
Nós não
alcançamos automaticamente o caráter perfeito e santo que vemos em Cristo
Jesus, quando nascemos de novo. Alcançá-lo depende de uma disposição do
nosso coração de efetivar aquilo que Deus reservou para fazermos. Há,
conseqüentemente, uma carreira a correr e uma vitória a alcançar.
Bem-aventurado é aquele que se propõem, consigo mesmo, chegar ao clímax que
Paulo chegou ao dizer: “estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu
quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gálatas 2.19,20).
Notemos que o
rogar de Paulo é motivado por um fato muito forte e nobre. É “pelas
misericórdias de Deus”. Nós sabemos que tudo que Deus fez, faz e fará por
nós, provêm de sua misericórdia. Paulo coloca o termo no plural –
“misericórdias” -, pois, elas são incontáveis e indizíveis. São inúmeras as
misericórdias que recebemos de Deus, sendo que a maior delas é a nossa
salvação eterna na pessoa de seu Filho. O sacrifício vivo, único e perfeito,
realizado em nosso lugar, substituindo-nos, é o maior apelo que possamos
ter, conclamando-nos a oferecer a Deus, também, um sacrifício vivo, santo e
agradável dos nossos corpos, fazendo-lhe, perfeitamente, o que lhe agrada.
Se nós somos
filhos de Deus, o somos pela sua compaixão para conosco. Dessa forma,
devemos tomar para nós a exortação apostólica: “Como filhos da obediência,
não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância;
pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos
também vós mesmos em todo o vosso procedimento, porque está escrito: Sede
santos, porque eu sou santo” (I Pedro 1.14,15). Eis o perfeito sacrifício
vivo que devemos fazer em resposta às “misericórdias de Deus”. Não há
motivação maior para que vivamos a vida de santidade do que a gratidão que
temos pelas misericórdias de Deus, que, diariamente vem ao nosso viver!
Paulo roga,
entretanto, que, “pelas misericórdias de Deus”, apresentemos nossos corpos
“em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”. Certamente o Apóstolo está
lembrando que na cruz foi feita a perfeita oferenda “Viva, santa e agradável
a Deus” por todos nós. E Deus a aceitou pois foi feita pelo seu Filho. Assim
como Jesus fez esse sacrifício por nós, devemos nós, também fazê-lo a Deus
em gratidão ao que dele recebemos.
Que é apresentar
o nosso corpo por sacrifício vivo? Primeiro, afirmamos que Deus não deseja
rituais, sacrifícios abstratos, místicos, sentimentais. O que ele quer é
algo bem prático. Ele espera que apresentemos a nós mesmos diante dele, com
atos concretos, práticas diárias e contínuo viver segundo a sua vontade.
Sacrifício vivo é a oferta que se expressa com a vida -. Nessa mesma carta,
Paulo já ensinou: “Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais para a
morte, mas se, pelo Espírito, mortificardes os feitos do corpo, certamente,
vivereis” (Romanos 8.13).
Aqui está o
sacrifício vivo que nos é pedido: “mortificar os feitos do corpo”. Isso
significa que os atos que fazemos impulsionados por nossa carne e que não
correspondem à vontade de Deus, devem ser dizimados e queimados no altar,
diante dele. E, as cinzas que restarem, devem ser jogadas fora do arraial,
como os israelitas faziam com as sobras sem valor dos animais sacrificados
(Êxodo 29.14), ou seja, devemos retirar de nós todos os resíduos da velha
vida que permanecem em nós e que nada mais significa para nós que vivemos,
plenamente, a nova vida em Cristo.
Recordemos que
toda a depravação da raça humana se expressa através do corpo. Vejamos como
age o homem estranho a Deus: o seu cérebro – parte essencial do corpo –
programa o mal que ele deseja executar; seus olhos vêem somente o que é
impróprio; sua língua profere a mentira, o engano, a maledicência; os pés
são rápidos em correr pelo mau caminho e as mãos apressam-se em ferir,
agredir, apossar-se do que dos outros. Comandados pelo cérebro desvirtuado
seus sentimentos e atitudes são, verdadeiramente, pecaminosos.
A santidade
cristã, da mesma forma, se efetivar através dos membros do corpo em um
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Isso começa com a mortificação
dos atos que, em nós, são da natureza carnal, fazendo com que cada membro do
corpo opere de acordo com os comandos do cérebro que se rege pela vontade de
Deus.
Assim, a mente
pensará com a sabedoria que lhe vem do Alto; a língua falará a verdade
eterna e entoará louvores ao Senhor; os olhos estarão voltados para Jesus
assimilando sua pureza e integridade; os pés se apressarão a andar pelos
caminhos justos; as mãos irão abençoar e o coração se derramará em amor, até
mesmo, para com os que maltratam, perseguem e fazem todo o mal.
È isso que
significa “sacrifício vivo” – oferenda que expressa a vida de Cisto em nós!
Também, jogar fora tudo o que não vem de Deus e valorizar tudo que dele vem
a nós. Nessa mesma carta aos Romanos, 6.13, Paulo escreveu: “Não reine,
portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas
paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como
instrumentos de iniqüidade, mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre
os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça”. Isso
é culto racional a Deus!
A seguir, Paulo
faz outro apelo necessário: “não vos conformeis com este século”. Saibamos
que o século – o mundo – negligencia a vontade e o propósito que Deus tem
para ele, buscando atender somente a seus próprios interesses humanos. É
fácil, muito fácil, acomodar-se com o século – o mundo e seu sistema
pecaminoso. Não é difícil acomodar a vida aos padrões do mundo. Quantos
cristãos estão fazendo isso e tendo prazer em conformar-se com a vida dúbia
que levam.
Há uma palavra
de ordem que vem de Jesus: “Não vos assemelheis, pois, a eles” (Mateus 6.8).
Não podemos nos acomodar à cultura predominante do mundo dos homens
insubmissos a Deus e que o aborrece. Escutemos o que Paulo nos diz em
Colossenses 3.1: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo,
buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus.
Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra; porque
morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”.
“Transformai-vos”, é a chave que o texto apresenta para que possamos
apresentar nossos corpos em sacrifício vivo a Deus. E essa transformação
começa com a nossa mente. A transformação da mente é o ponto básico para que
seja visível em nós a vida que Deus planejou para os que são seus, e que é
visível na pessoa de seu Filho. Nossa mente precisa ser esvaziada de tudo
que não provém de Deus e ser impregnada com tudo que dele procede. Essa é
uma transformação que nos compete fazer.
O texto indica o
que deve predominar em uma mente regenerada: “a boa, agradável e perfeita
vontade de Deus”. Só uma mente restaurada pode discernir, obedecer e
expressar a mente de Cristo. Os filhos de Deus precisam ter mentes
totalmente conformadas aos padrões divinos, pois, um dia, quando menos
esperarmos estaremos diante do Senhor que declarou ser “aquele que sonda
mente e corações” (Apocalipse 2.23). Nossas mentes serão perscrutadas em
seus mínimos detalhes, pois, é na nossa mente que elaboramos todo o bem ou
todo o mal que praticamos.
Outra importante
expressão do texto é: “para que experimenteis [...] qual seja [... a]
vontade de Deus”. É uma riqueza espiritual valiosa, quando, por experiência
própria, podemos provar a excelentemente boa, a extremamente agradável e a
tão perfeita vontade de Deus para a nossa vida, pois, ela expressa o seu
desejo de que sejamos exatamente como seu Filho é.
Nós temos
recursos valiosos e acessíveis que nos ajudam a renovar nossa mente:
1. A Palavra de
Deus. Uma mente cheia da Palavra direcionará toda a nossa vida mental,
conseqüentemente, todo o nosso ser e o nosso fazer será moldado por ela. A
palavra é a espada do Espírito que Efésios 6.17 indica como a arma preciosa
em nossas lutas espirituais. Aconselhamos a todos lerem o salmo 119 e
encontrarem nele a demonstração do que a Palavra é, e os inúmeros valores
que ela possui, para a renovação da mente.
2. O Espírito
Santo. Ele é a pessoa mais interessada em renovar nossa mente, pois, ele
quer moldar em nós a mente do Senhor Jesus Cristo. A nossa mente, sob a
graça e unção do Espírito, presidirá nossa vida interior pautando-a com a
sabedoria do Alto. É o Espírito que leva a nossa mente a possuir, de forma
ampla e nova, a visão de todas as realidades espirituais de Deus.
Ele nos faz,
verdadeiramente, ser e agir dentro do que é esperado de nós como novas
criaturas. Ele nos fortalece para que, realmente, estejamos vivendo como
nascidos de novo em Cristo Jesus. É através dele que Deus cumpre a promessa
de imprimir em nossas mentes as suas leis, conforme fala Jeremias 31.33. É
ele quem guarda o nosso coração e mente em Cristo Jesus (Filipenses 4.7).
3. A oração. Ela
sempre nos levará bem junto a Deus e, assim, dele recebermos força, auxílio
e graça para uma total restauração mental. Quando oramos Deus edifica nossa
mente e fortalece nosso espírito. Que a nossa súplica sempre seja: Renova,
Senhor, a nossa mente para que te conheçamos mais e mais.
Quão tremendo é
esse expressivo apelo que Paulo soube sintetizar em apenas dois versículos.
Apelo que deve nos levar à experiência que precisamos, hoje, alcançar, ou
seja, conhecer a grandeza da vontade de Deus para conosco. Deus não nos quer
pequenos, pobres, inferiores. Ele nos quer levar “à perfeita varonilidade, à
medida da estatura da plenitude de Cristo” (Efésios 4.13). Sua vontade,
realmente, é de que sejamos seus filhos como seu Filho, Jesus Cristo é. Para
isso ouçamos o apelo: “seguindo a verdade em amor cresçamos em tudo naquele
que é a cabeça, Cristo” (Efésios 4.15). Amém.
Erasmo Ungaretti
fonte: adorar.net
Erasmo Ungaretti
fonte: adorar.net
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